Texto de P. Mauro Odorissio, CP
É importante saber distinguir o genérico do específico. Aquele indica o que é comum a um grupo; este enfatiza nuanças ou matizes nos componentes da totalidade. O genérico dos humanos é raciocinar. Mas há quem raciocina sensatamente: isto é o específico. A oração é genérica quando trinitária e em comunhão com os irmãos; específica ao ser vocal, meditativa, contemplativa, unitiva, etc.
A nossa Paróquia de S. Sebastião está confiada aos cuidados dos Passionistas cujo Fundador é S. Paulo da Cruz. O Santo será celebrado no próximo dia 19 de outubro. Por isso, ele começou a ser evocado, na liturgia, com a entrada de um banner que traz a sua imagem.
Acontece que S. Paulo da Cruz foi grande orante, excepcional mestre de oração e exímio diretor de almas. Chegou a píncaros da evolução espiritual (esponsais místicos), estágio atingido por raros santos. É vital considerar algo da caminhada orante do Santo e vislumbrar tópicos da oração paulocrucina.
Cedo se viu atraído por Deus. Assumiu a oração “vocal”, a rezada com “a boca”, a que vem pronta ou sabemos de cor. Ia além da “meditação”, quando se queda com a boca cerrada, dando espaço para a inteligência. Mas lhe era vital, orar com o coração. Acontecia, a contemplação, o diálogo amoroso entre ele e Deus, sem excluir os irmãos. O envolvimento entre corações apaixonados cria maravilhas.
Embora superficialmente, é vital evocar impregnações na vida orante de São Paulo da Cruz.
1ª – CONTEMPLAÇÃO. Ante humilde ermida dedicada a Nossa Senhora, sentiu-se chamado à solidão exterior e interior. Em ambiente de deserto material e espiritual, estaria mais aberto a Deus que fala salvificamente e que quer ser ouvido. Mas compreendeu cedo que esse sublime valor não deveria ser o único, em sua vida: estava aberto a outros. Então, além da CONTEMPLAÇÃO, SOLIDÃO e RECOLHIMENTO como valores pessoais e que seriam inseridos na futura Congregação que fundaria, a dos Passionistas, foi acolhendo outros. O jovem Paulo Francisco viveria tais valores místicos da vida contemplativa, mas como real contemplativo, se tornaria apostolo entre os irmãos.
2ª APOSTOLICIDADE AUTÊNTICA. O Santo se sentia chamado a ser, também, servidor dos irmãos. Conservando a iluminação anterior, viu em convocação papal,ocasião de ser missionário: alistou-se como cruzado. Em oração perante o Santíssimo compreendeu que jamais irradiaria Cristo pelas armas. Seria soldado de Cristo que levaria vida e não morte (2Tm 2,3). O aparente rebate falso, ser cruzado, deixou-lhe a marca indelével da vida apostólica autêntica que só vem do místico. Seria, então, o despenseiro de Cristo (1Cor 4,1-2). Para tanto, abastecer-se-ia, nos momentos fortes de vida solitária, recolhida. Então, ao valor CONTEMPLAÇÃO, agregou da APOSTOLICIDADE AUTÊNTICA
3ª – VIDA EM FRATERNIDADE. Paulo da Cruz escreveu que não queria remar sozinho. Sentia-se chamado a viver, fraternalmente, como os primeiros cristãos (At 4,32ss). Procurou congregar irmãos, os que chamou de “Pobres de Jesus”. Lutou com denodo; mas dele o Senhor queria algo específico. Assim mesmo, aos valores CONTEMPLAÇÃO e APOSTOLICIDADE, agregou outro: VIDA EM FRATERNIDADE.
4ª – O AMOR PASSIOLÓGICO. Finalmente o céu se tornou mais legível. Além dos sofrimentos, o Santo descobriu no Crucificado a maior manifestação do amor do Pai que por nós não poupou o próprio Filho (Rm 5,6-9) e o de Jesus que não se poupou a si mesmo (Jo 13,1). Surgiu o específico da Congregação que deve anuncia o verdadeiro amor (Jo 15,12-13). O Santo afirmava, com razão, que no Crucificado está a solução de todos os males do mundo. Bem examinada, não se trata de afirmação piegas. O Crucificado é a revelação do amor que leva os humanos ao encontro fraterno, nesta vida.
É ele que leva todos à comunhão definitiva na casa do Pai. O AMOR PASSIOLÓGICO, oriundo do coração alanceado de Jesus, arrimando-se no espírito de SOLIDÃO, de APOSTOLADO e de VIDA EM FRATERNIDADE, deve ser sempre e cada vez mais refletido, rezado, vivenciado e irradiado pelos seguidores da espiritualidade paulocruciana. Para ser reencontrado, o mundo deve ser passionistificado.
Que a Paixão de Cristo, forja de amor, de santidade, de apóstolos e de santos, esteja no coração de todos.