Texto de P. Alcides Marques, CP
Hoje vamos falar de dinheiro. Estamos enfrentando uma crise econômica terrível e o dinheiro parece que não é mais suficiente para mantermos o nosso padrão de vida costumeiro. No mundo todo, o dinheiro tem sido o foco principal de guerras e tensões. Até mesmo os relacionamentos familiares são fortemente marcados pelo dinheiro. São muitas as separações de casais impulsionadas por problemas financeiros. Quantas famílias se dividem na hora da repartição de herança dos pais? Parece que o dinheiro é o pai de todos os problemas.
Muitos religiosos católicos vivem falando mal do dinheiro. Muitos comentários e preces das missas também. Mas é preciso deixar claro uma coisa: o dinheiro é necessário e importante para a vida, inclusive para a vida cristã. Até mesmo quem fala mal do dinheiro, fala porque tem algum dinheiro sustentando os seus devaneios. Como cristãos, temos a obrigação de ser realistas diante da vida. Sem fantasias.
Ninguém consegue viver sem dinheiro. Ou se conseguir, é porque vive do dinheiro dos outros. Nem mesmo a Igreja. Afinal, não precisamos comprar vinho, hóstia, pagar a conta da luz etc.? Até o grupo de Jesus precisou do dinheiro de algumas mulheres, pelo menos é o que nos indica São Lucas: “Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Susana e várias outras, que o serviam com seus bens” (Lc 8,3).
O que o Evangelho critica não é o dinheiro em si, mas a sua transformação em um absoluto, um deus. Quem é o seu deus? O meu Deus é o Deus de Jesus Cristo, a quem eu chamo de Pai! Mas será mesmo? Para saber quem é realmente o seu deus, você precisa perguntar o que é absoluto em sua vida; aquilo que diante do qual tudo se torna relativo. Então, o absoluto de sua vida é o seu deus. Vejamos o caso do dinheiro: se para você tudo gira em torno do dinheiro, o seu deus é o dinheiro; mesmo que você afirme que é o Deus de Jesus Cristo.
Para Jesus, não é possível adorar dois deuses: ou é Deus (Pai) ou é o dinheiro. “Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Por que Jesus fez questão de usar o dinheiro como exemplo? Exatamente porque o dinheiro traz a ilusão de que podemos tudo. O deus dinheiro nos ilude porque nos induz a acreditar que com ele nós podemos tudo.
Existe sim uma maneira cristã de lidar com o dinheiro. Antes de tudo, essa maneira exige aceita-lo como um instrumento, um meio; não um fim. O dinheiro não é maior do que nós, nós é que somos maiores do que ele. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). A vida é mais importante do que o dinheiro. E quando falamos em vida devemos entender qualidade de vida, paz interior, harmonia, senso de prazer por viver, amigos, amores etc. Quando o dinheiro for um meio necessário para a vida digna, ele é sim bem-vindo. E nós não precisamos ter medo dele.
Se a essência do cristianismo é o amor-serviço, a fraternidade, o dinheiro pode ser uma excelente oportunidade para a partilha e a solidariedade. É um sentimento muito agradável saber que através do nosso dinheiro podemos colocar um pouco de felicidade nos caminhos de tantas pessoas. Santo Agostinho dizia: “ama e faça o que quiseres”. Vamos, então, colocar mais amor no coração e lidar com o dinheiro de tal forma que o mesmo sempre nos ajude a sermos melhores enquanto pessoas. Façamos isso por Cristo. Façamos isso por tanta gente que precisa de nós para ser um pouco mais feliz.