Texto de P. Alcides Marques, CP
O livro a Cabana de Willian P. Young alcançou um sucesso de vendagem e, mais ainda, de impacto, tendo em vista a densa temática que aborda. Simplesmente refere-se a um homem, Mackenzie, chamado de Mack, que perdeu tragicamente sua filha de oito anos, Melissa (Missy), vítima de estupro e posteriormente assassinada por um serial killer. Ele estava em um passeio com a família e a sua filha foi atacada covardemente e levada a uma cabana, onde teria sido assassinada. O resultado desta trágica experiência foi o surgimento de um homem acabado, triste, isolado e sem rumo.
Até que um dia ele recebe um bilhete de alguém que assina Papai e que pede que ele vá até a cabana onde sua filha foi assassinada. Ele se espanta como o convite, mas acaba se dirigindo até a Cabana onde encontra com a Santíssima Trindade em forma de pessoas concretas: o Pai, que é chamado de Papai, aparece como uma mulher negra; o Filho, Jesus, aparece como um moço alegre; e o Espírito Santo, chamado de Sarayu, aparece como uma mulher sem forma definida.
A força do livro está nesta maneira de abordar a Santíssima Trindade. O autor não pretende fazer uma reflexão teológica sobre a Santíssima Trindade, mas sim apresenta-la em sua proximidade máxima com um ser humano. É a Trindade que dialoga com o ser humano; que convida a uma refeição. Deus Pai é chamado de Papai, o modo como o próprio Jesus de Nazaré chama a Deus, Abba. Mas além de utilizar o termo que indica proximidade, a forma concreta como Papai se apresenta é surpreendente: na forma de uma mulher (mãe) negra. Mack teve uma experiência negativa do seu pai humano, que bebia e batia nele. Quando Papai se apresenta como uma mulher negra, ele se mostra em sua face amorosa, de dedicação, de cuidado. Recompõe para Mack o lado saudável de uma existência coletiva (familiar). A refeição em comum será a expressão maior desse convite à fraternidade. Uma fraternidade que envolve Papai, Jesus e Sarayu.
Mas, apesar de tudo, o problema maior ainda persistia. Como este amor cuidado e esta fraternidade concreta, que Mack experimentava realmente em sua vida, poderiam conviver com o fato de que sua filha inocente foi cruelmente violentada e assassinada? Como combinar estas duas experiências: uma fortemente positiva e outra escandalosamente negativa?
O livro tentou oferecer uma explicação. Tentou porque na verdade só avançou um pouco e acabou retornando a uma visão tradicional de como se dá a ação de Deus na história humana. Mack aprendeu que Deus não programou e muito menos estaria feliz com o que aconteceu com sua filha.
Aprendeu que Deus permitiu. Mas permitiu por quê? É aqui que existe um pequeno avanço: permitiu não por permitir (ou seja, por não querer agir). Permitiu porque era possível atingir um propósito. Mack foi convencido a admitir que nas experiências mais trágicas da vida, Deus pretende através das mesmas atingir algum objetivo, mesmo que nós não saibamos qual seja. Difícil de digerir, mas confortante, não? Imaginemos as tragédias e catástrofes e as consequentes ondas de solidariedade que as mesmas desencadeiam. Não estaria aí o propósito divino?
Estaria então resolvido – do ponto de vista da fé – o problema do sofrimento humano? Infelizmente não. E esta é a fraqueza do livro “A Cabana”. Mas seria possível outra maneira de entender? Acredito que sim. Qual? Veremos…