Texto de P. Alcides Marques, CP
O papa emérito Bento XVI escreveu três volumes de uma obra intitulada “Jesus de Nazaré”. Ao falar da ressurreição de Cristo, ele destaca a citação de são Paulo Apóstolo quando apresenta a ressurreição como o fundamento da fé cristã: “se Cristo não ressuscitou vazia é a vossa fé e vazia é a nossa pregação” (1 Cor 15.14). Ao refletir sobre as consequências de tal afirmação, o papa vai dizer que se Cristo ressuscitou o critério último de nossas escolhas e decisões é ele (Cristo). Se Cristo não ressuscitou o critério último somos nós mesmos, o nosso próprio eu, e assim podemos escolher dos ensinamentos de Cristo aquilo que mais nos agrada.
Quer tenhamos consciência ou não, as nossas escolhas e decisões são tomadas em vista de algum (s) critério (s). As escolhas são as nossas opções diante de situações corriqueiras do dia a dia. O horário exato de levantar, o restaurante que vamos numa determinada noite, o que vamos assistir na televisão etc. As escolhas dizem respeito às alternativas já prontas e que nós devemos escolher uma em detrimento das outras. Já as decisões dizem respeito a algo maior; algo que não está necessariamente pronto; algo que deve ser construído. É a decisão do casamento, de trilhar por uma determinada profissão, de ir morar em outro país, de fazer um retiro espiritual e assim por diante.
Observe que escolhas e decisões obedecem a algum tipo de critério. Quando você vai escolher um filme para assistir, você escolhe em função de algum critério. Se você não gosta de assistir violência gratuita, não vai escolher filmes de terror ou ação. O mesmo se dá no restaurante: se você gosta muito de queijo, vai preferir os sabores que tenham bastante queijo. O mesmo se dá com as decisões. O mais fundamental, portanto, não são as nossas escolhas, mas os critérios que adotamos. E todos nós temos critérios. Alguns nobres; outros neutros; outros não tão nobres.
Voltemos a questão de ressurreição de Cristo. Nós cristãos não somos simplesmente seguidores de uma bela mensagem deixada por Jesus. O Dalai Lama, budista, também aceita e pratica os ensinamentos de Jesus. Talvez até melhor do que muitos de nós. Mas isso não o torna cristão. O que torna alguém cristão é o encontro pessoal com Jesus Cristo vivo (ressuscitado). Você não vai à missa pela mensagem ensinada, mas para o encontro com Alguém. E tal encontro se dá na recepção da Eucaristia, na escuta da Palavra, na comunidade reunida, através do ministro ordenado e também o encontro ético através da solidariedade – “cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes ( Mt 25, 40)”.
É através do encontro com Cristo que vamos em direção do critério último de nossas escolhas e decisões. O problema não está em ter critérios pessoais, mas em reconhecer que o critério último (maior) vem de Cristo. O refrão do canto de aclamação da missa dos quilombos é ilustrativo dessa centralidade de Cristo: “tu tens, Senhor Jesus, a última palavra. E nós apostamos em Ti”. Se no sábado a noite você tiver que escolher entre ir a uma festa com os amigos ou cuidar de um pai ou filho enfermos: qual escolha fará? Pode ser que o seu eu se ache no direito de se divertir, que você não é médico etc. Mas, se a última palavra vem de Cristo? O que esta palavra lhe dirá? Que escolha indicará como mais condizente com o amor de Cristo? O que Cristo faria em seu lugar?
O que te torna cristão é aceitação da Palavra de Cristo como última palavra. E isso deve ocorrer em todos os momentos, nas suas escolhas e decisões. Na verdade, o pecado se instala quando não deixamos que Cristo dê a última palavra. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).