É uma obra de misericórdia espiritual. Espiritual porque tem como objetivo ajudar uma pessoa em suas escolhas e decisões. Existe um ditado que diz que “se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia”. Mas, a realidade da vida, particularmente da vida cristã, exige que, em algumas situações determinadas, seja um ato de misericórdia oferecer a alguém a nossa ajuda através de palavras motivadoras e construtivas.
Quando falamos em dar conselhos, não significa que devemos nos considerar donos das vidas de outras pessoas. Um bom conselheiro não é alguém que fica dizendo: “eu no seu lugar…”. Isso seguramente não vai produzir um bom conselho. Quem aconselha deve fazer o contrário: colocar-se no lugar do outro e apontar caminhos, tendo em vista, seu saber e experiência de vida. Apontar caminhos não é querer direcionar os outros.
Na Sagrada Escritura, temos um lindo exemplo de um bom conselho. Está no livro do Êxodo (18,13-27). Durante a travessia no deserto, Moisés ficava sozinho resolvendo os problemas particulares das pessoas. Então Jetro, seu sogro, aconselhou que ele descentralizasse as decisões, dividindo o povo em pequenos grupos. “Moisés seguiu o conselho de seu sogro, fez tudo o que ele havia dito” (Ex 18,24).
Não existe conselho forçado. Algumas vezes, as pessoas acham que é possível através de palavras modificarem as vidas de outras pessoas. Levam, por exemplo, filhos aos padres ou a pessoas tidas como mais sensatas para ajuda-las a convencer os mais jovens a seguir este ou aquele caminho. Essas atitudes até podem dar resultado, mas na maioria das vezes estão fadadas ao fracasso. Se a pessoa está prisioneira – ou por opção ou por vicio – de uma determinada maneira de se comportar, não há conselho que possa resolver. É preciso que primeiro esta pessoa tenha condições de mudar. Aí sim terá sentido algum conselho. O conselho exige liberdade do outro.
Não sei se você sabe, mas o padre é um conselheiro por definição. Explico. Nós estamos acostumados a chamar os padres de sacerdotes, mas deveríamos chama-los de presbíteros. É mais bíblico. Na igreja primitiva, presbíteros e anciãos eram a mesma coisa. Ancião não no sentido de idade, mas de capacidade de aconselhamento. Os presbíteros formavam um conselho na comunidade e eram os conselheiros de todos. Por isso mesmo, os padres deveriam se definir mais como conselheiros do povo. Uma homilia, não é uma aula ou um festival de lições doutrinárias ou morais. A homilia deve ser encaminhada como uma forma de conselho, de orientação de vida. O mesmo deveria acontecer nas confissões e até mesmo na maneira de pastorear a comunidade.
O conselho deve sempre ser um apelo à razão. Com chantagem emocional não pode haver um bom conselho. É para isso que precisamos dos nossos amigos e amigas. Não somos amigos para viver agradando toda hora ou para sermos agradados. Somos amigos para poder compartilhar a existência da melhor maneira possível. Não teria sentido você dizer que é amigo de alguém, se você não pode dizer a este alguém tudo aquilo que no seu entender é melhor para ele. Se um (pretenso) amigo não aceita nem ouvir suas palavras, exceto quando são de acordo com o que ele pensa e quer, então seria bem melhor você repensar se precisa desta amizade.
Vale a pena não se esquecer de que a obra de misericórdia diz respeito a um bom conselho. Sendo assim, precisamos tomar cuidado para não aconselhar errado. Por isso, muita oração e muito diálogo silencioso com o nosso grande Amigo. Falo de Jesus Cristo.