Texto de P. Alcides Marques, CP
Mais uma obra de misericórdia espiritual. Não precisa de muito esforço para entender em que sentido a consolação dos aflitos é uma ação misericordiosa. São muitos os motivos que levam uma pessoa a uma situação de aflição, tristeza, amargura. E sabemos que ao cair em tal situação, torna-se muito difícil sair sozinho da mesma. Não é que é impossível, mas, sem a ajuda das outras pessoas, a superação deste sofrimento torna-se mais difícil ainda. Para viver, precisamos uns dos outros.
A atitude cristã indicada diante de alguém em aflição é a consolação. Trata-se da busca de oferecer um caminho para que a tristeza seja amenizada ou superada. O ato de consolar ocorre normalmente através de palavras. É preciso ter a sabedoria de dizer as palavras certas. Para isso precisamos – quem consola – de uma graça divina especial. Muitas vezes, não sabemos o que dizer; mas, numa atitude de fé, contamos com a assistência especial do Espírito Santo. Então, mais do que pensar no que se vai dizer ao outro que sofre, o que é mesmo importante é antes se colocar em atitude de oração, particularmente diante do Santíssimo Sacramento.
A consolação dos aflitos é uma das bem aventuranças: “Felizes os aflitos, porque serão consolados” (Mt 5,5). Serão consolados por quem? Pelo Espírito Santo. O Paráclito é o Consolador (Cf. Jo 14,16). Em Atos (9,31) a consolação do Espírito Santo acompanha a vida das igrejas e produz a paz: “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo”. A tradicional oração ao Espírito Santo também fala da consolação: “Ó Deus… fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da Sua consolação”.
Como a consolação verdadeira vem do Espírito Santo, a nossa consolação deve sempre brotar do mesmo Espírito Santo presente em cada um de nós. Assim sendo, a consolação não se dá apenas por palavras, mas também por gestos, comportamentos, atitudes. A simples presença já é um ato de consolação. Mais ainda: a capacidade de criar uma ponte afetiva com a outra pessoa, um sorriso sincero, um beijo, um abraço e assim por diante.
Concretamente falando, podemos proporcionar ao outros momentos de oração, leitura bíblica, mensagens edificantes, silêncio para ouvir a voz de Deus. O que realmente importa aqui é deixar claro ao outro que ele não está sozinho em seu sofrimento; que a sua dor importa e afeta a nós. “Eu só peço a Deus: que a dor não me seja indiferente” (Mercedes Sosa).
A experiência de fundo para quem vive num estado de aflição é sempre marcada por uma perda. E, diante de uma experiência de perda, não temos alternativa senão fazer a sua travessia – mais ou menos como entrar em um túnel. É um caminho difícil, mas temos que percorrê-lo; não há como ficar parado. Consolar os aflitos não dizer a eles que este caminho não existe; é se colocar ao lado do outro e se comprometer a estar sempre junto a ele.
O desafio não é o de dar soluções para os problemas dos outros. Trata-se de algo bem maior e mais decisivo: vamos juntos olhar para frente; vamos juntos enfrentar os obstáculos; vamos juntos recompor o quebra-cabeça da vida, que por alguma razão ficou extremamente embaralhado.