Texto de P. Alcides Marques, CP
A palavra suportar sugere algo que é um peso. O animal suporta “x” quilos de carga. Uma pessoa pode dizer que suporta a permanência da outra por um tempo determinado. Já outra pessoa pode dizer que na vida tem suportado uma série de dificuldades. Em sentido oposto, pode-se dizer de uma pessoa que esta é insuportável. No caso concreto desta obra de misericórdia, o que deve ser suportado é a fraqueza do próximo.
Não é nada fácil, especialmente no mundo em que vivemos, entender que a fraqueza do outro não deve ser considerada como um obstáculo, mas como uma oportunidade para a fraternidade. Isso mesmo: uma oportunidade. O ideal seria que todos nós fossemos absolutamente iguais na maneira de compreender as coisas e as pessoas e de agir no mundo. Mas a vida concreta não é assim. Em algumas circunstâncias, saberemos mais: em outras, menos. A misericórdia tem a ver com as pessoas que sabem menos do que nós. Ser misericordioso é amá-los em suas fraquezas.
A palavra paciência vem do latim “pati”, que quer dizer sofrer. Os clientes dos médicos são chamados de pacientes, ou seja, são aqueles que estão sofrendo algum tipo de doença. Em resumo: paciência indica algum tipo de sofrimento. Trata-se do sofrimento de ter que aceitar um ritmo mais lento de lidar com pessoas ou situações. Por isso, paciência exige o cultivo de algumas qualidades como calma, serenidade e, sobretudo, o reconhecimento do direito do outro ter o seu tempo. Uma pessoa impaciente é uma pessoa apressada, que tem dificuldade de lidar com os limites dos outros e, às vezes, até de si mesma.
A obra de misericórdia diz respeito a todo tipo de fraqueza humana. As pessoas têm as suas dificuldades, limites, imperfeiçoes. Alguns destes limites podem ser superados rapidamente com o aprendizado; outros, não. Nem todas as pessoas conseguem aprender as coisas do mesmo jeito. Algumas são mais lentas. Outras possuem limites que não podem ser superados. Imagine a situação de quem tem que cuidar de uma pessoa com sérias dificuldades motoras ou mentais? Imagine também quem tem que lidar com pessoas com o mal de Alzheimer? E assim por diante.
São Paulo apóstolo, ao falar da excelência do amor (ágape), diz o seguinte: “tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,7). O amor é parte da essência do cristianismo; e a paciência em suportar as fraquezas do próximo deve ser vivenciada como um ato de amor. A paciência genuinamente cristã é aquela que brota de um compromisso de amor (fraternidade, solidariedade, misericórdia).
A paciência com os outros acaba gerando uma maneira bastante interessante de lidar com a vida. A pessoa passa a ser paciente consigo mesma; desenvolve uma calma diante das situações estressantes da vida. Isso, sem duvida, combate a tendência moderna à ansiedade e agitação. A paciência gera uma postura de leveza. Uma pessoa paciente não coloca peso na vida dos outros; ao contrário, ela ajuda os outros a carregar os pesos que a própria vida impõe.
Vamos refletir um pouco sobre como tem sido a nossa maneira convencional de lidar com as pessoas mais fracas (em todos os sentidos). O que precisaríamos melhorar para sermos mais pacientes com as fraquezas daqueles que se encontram em nossos caminhos?