Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos

Texto de P. Alcides Marques, CP

Trata-se da 7ª obra de misericórdia espiritual. Mas, em que sentido a oração se constitui em obra de misericórdia? No momento em que for vivenciada como um ato de amor ao próximo, especialmente nos momentos de sofrimento do outro. É comum as pessoas pedirem orações em momentos de dificuldade e é comum as pessoas manifestarem o desejo de fazerem orações umas pelas outras pessoas. Neste sentido, o que se busca é uma comunhão espiritual entre as pessoas e Deus.

É óbvio que, por sermos cristãos, não podemos entender a oração como uma fórmula mágica. A oração cristã não é um negócio, mas uma atitude de confiança. Recordemos mais uma vez o espírito do Pai Nosso: “seja feita a Vossa vontade” (Mt 6,10). Quem não está disposto a acolher o desígnio de Deus, não tem como se dizer cristão. Deus não precisa provar nada para nós. Os seus desígnios muitas vezes não podem ser compreendidos por nós. Mas precisam ser acolhidos na fé. Lembremo-nos do lava-pés: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde” (Jo 13,7).

Será que nossa oração pode mudar alguma coisa? A nossa fé diz que sim. Jesus garante que alguma coisa a nossa oração muda: “Pedi e recebereis” (Mt 7,7). Mesmo que não seja exatamente como ou quando nós desejamos. Quando uma mãe reza constantemente pela conversão de seu filho, algo de divino (graça) vai atingir o filho; mas sempre respeitando a liberdade do filho. Note o exemplo de Santa Mônica que rezou muitos anos pelo seu filho Agostinho: o nosso Santo Agostinho. O problema não estava em Deus nem em Mônica, mas em Agostinho, na sua liberdade. Uma liberdade que sempre recebia uma luz espiritual. Se a mãe não tivesse rezado pelo seu filho, talvez ele não tivesse se tornado cristão. É preciso rezar e rezar sempre (Cf. Lc 18,1).

Esta obra de misericórdia nos desafia a pensar nas pessoas que mais precisam de nossas orações. Nem precisa que as mesmas peçam para nós. Nós é que devemos espontaneamente, por misericórdia, colocar diante de Deus as suas vidas e dores. Não seria muito cristão transformar nossas orações em um hábito egoísta: somente por nós, por nossos amigos e familiares.

No caso das pessoas falecidas, precisamos consertar uma tendência entre nós católicos. A oração pelos mortos não é um simples ato social ou uma lembrança. Mais do que isso, é um ato de amor, de misericórdia. Aliás, é o único ato de amor realmente consistente que podemos fazer pelos que partiram para a eternidade.

O sentido da oração pelos mortos vem do fato de que através da morte – melhor dizendo, depois da morte – toda pessoa vai ao encontro de Deus, de sua luz, de seu amor. Este encontro, exatamente por ser um encontro com o amor de Deus, vai revelar quem de fato a pessoa é, o que ela construiu nesta vida. Por isso, este encontro pode não ser fácil; pode ser um momento de sofrimento para se acolher este amor eternamente este amor de Deus. E é aqui que entra a nossa oração. Estamos nos colocando ao lado da pessoa para que ela possa mais facilmente se abrir à luz divina.

Pouco importa o tempo – sétimo dia, um mês, dez anos e assim por diante – porque na eternidade não há tempo. O tempo existe somente para nós. Assim sendo, nas missas que você participar, por exemplo, você pode interiormente se colocar em sintonia com os irmãos e irmãs falecidos. As intenções marcadas tem o objetivo de partilhar com a comunidade esta oração. Mas não precisa exagerar. Na maioria das vezes, basta a nossa oração pessoal.