Destro, canhoto e ambidestro: diversidade

Texto de P. Mauro Odorissio, cp

A velha lógica aristotélica sempre ensinou que, antes de iniciar um debate ou qualquer estudo, é importante definir os termos. Com eles definidos, muitos equívocos são evitados e, praticamente, meio caminho fica vencido.

Nosso cabeçalho traz três termos que merecem um mínimo de atenção. Comecemos com o primeiro: DESTRO. Com ele queremos indicar não uma pessoa capaz, hábil, desembaraçada, perspicaz, mas sim a que usa mais facilmente a mão ou o pé direito. É destro o que se serve naturalmente da mão direita para comer, para fazer algum trabalho. Se isso acontece com a mão esquerda, ele é canhoto. Porém, não desastrado, desajeitado, inábil. No momento não tomamos a palavra nessa acepção.

E o que vem a ser ambidestro? Trata-se dos que, com a mesma destreza e facilidade, usam naturalmente tanto a direita como a esquerda.

Eu me reconheço destro como a maioria das pessoas. Contudo, por muitas vezes jogar bola na linha esquerda, fui adquirindo certa habilidade e chutava com ambos os pés. Eu não era lá “aquelas coisas”, mas pelo fato desta ambivalência, tinha garantido o meu lugar “na linha”, ou mais precisamente, na “ponta esquerda”, como se dizia.

Geralmente, a garotada não gostava de jogar na defesa, muito menos no gol, como golkiper, como se dizia no mais genuíno jargão britânico futebolístico de então. Então, de certa maneira, ao menos no futebol, eu era ambidestro.

Os entendidos, não em futebol, dizem que a maioria das pessoas é destra, um número menor é canhoto, restando aos ambidestros o restinho que sobra. Acredito que todos já havíamos constatado essa realidade. Mas os referidos entendidos chegam a dar as respectivas proporções.

Jamais tinha pensado, mas, neste momento que escrevo, não com lápis, mas com o computador ou nele, percebo que uso com a mesma desenvoltura tanto a mão direita como a esquerda.

Dando mais um passo em nossas considerações, é interessante saber que a fonte motora do comportamento dos ambidestros, dos sinistros e dos destros é o cérebro. As pessoas nascem com determinada tendência

Após termos dado o devido momento para as admirações, espantos, dúvidas, interrogações e assimilação, prossigamos com a argumentação.

Como já gastei boa parte do espaço que me é reservado, entro no assunto que me interessa e gostaria que refletíssemos juntos. Antes, porém, quero ajuntar um dado que merece ser acenado: quem ignora que, no passado, se forçava as crianças canhotas a usarem a mão direita ao escrever. Chegava-se a afirmar que a mão esquerda era “sinistra” (que em italiano significa esquerda) e em ambientes menos esclarecidos, se dizia até que ela provinha do “chifrudo”. Com isto havia certa violência contra tais pessoas. Lembro-me como vibrei ao ver entre as chamadas carteiras universitárias (não sei se é o nome correto), umas adaptadas para os canhotos, as que tinham o apoio para os que escreviam com a mão esquerda. Eu me surpreendi com este fato.

Mas vamos ao assunto: vivemos num mundo com muita diversidade, com muita distinção, com modos diferentes no ser e no agir. Graças a Deus, a natureza é pródiga, não usa aparelho de fotocópia. Ela não é monótona, padronizada, nem no genérico, nem no específico. Para evitar o que acorreu com as certas crianças canhotas que foram, de alguma maneira forçadas a serem destras, cabe a todos, conhecendo os passos dados na ciência, na reflexão, acatar as pessoas como elas são, sem levantar qualquer tipo de barreira, qualquer tipo de preconceito ou de segregação. Que acolhendo as pessoas como elas são, possamos formar um bom time de futebol com “golkiper” (o goleiro), o “back” (o beque) e o “center flower” que, no nosso genuíno sotaque londrino dizíamos “centerflor”. E “tava falado”!

Que saibamos viver fraternalmente nas nossas distinções e até diferenças. É riqueza.