Texto de P. Mauro Odorissio, CP
Em nosso caminhar pelas sendas da vida, sentimos necessidade de fazer opções a cada instante. De imediato tem lugar as avaliações que, sob determinados parâmetros serão consideradas boas ou más. Exige-se que as normas ou princípios sejam estáveis, imutáveis, permanentes, justas. Só com elas teremos condições de estatuir ou de avaliar o agir humano como bom, ótimo, ruim, péssimo. Caso elas pequem no seu ser e no seu agir, serão más e não terão condições de ser estrada vivencial na vida dos humanos. Sob tal prisma é possível distinguir as ações humanas conscientes como amorais, morais ou imorais. Neste processo teremos condições de avaliar nossos atos. E o primeiro tribunal ao qual nos submetemos, conscientemente ou não, é a chamada sindérese, a voz interior silenciosa, mas altissonante, da consciência que nos repreende quando fazemos o mal ou nos aprova quando praticamos o bem.
Por meio do livre arbítrio, fruto da liberdade, fazemos nossas opções escolhendo o caminho do bem ou o do mal. Assim, sob a luz da ética ou da moral, somos capazes de rever nosso passado, considerar nosso presente e projetar o futuro. Logicamente, entre as pessoas bem intencionadas, afloram correções, fortalecimentos, propósitos.
Nada disto, porém, será fruto de individualismo interesseiro. Ao contrário, nota-se algo inato no ser humano a orientá-lo pelas sendas do bem, como a sociedade, em consenso geral, impõe normas para o convívio harmonioso e fraterno, social. À maneira como tais “leis” são acolhidas ou vividas, o cidadão é diferentemente avaliado. Então, a eticidade da criatura racional é inata não puramente subjetiva. Se assim fosse, entraríamos na lei selvagem do mais forte.
Sem maiores delongas, podemos afirmar que o ponto de partida é a existência de alguém que é o Bem ou a Bondade Ontológica, aquele que servirá de parâmetro, de comparação para tudo o que existe, sobremaneira para o ser humano dada a sua racionalidade.
Para ilustrar o que está sendo dito e eliminar subjetivismos, “achismos”, interesses escusos, tomemos como exemplo o “metro”. Como todos se adequaram ao protótipo de platina que indica determinado fragmento do meridiano terrestre, este passou a ser o parâmetro para as medições. Assim, o parâmetro da moralidade é o Bem ou a Verdade entitativa: Deus.
É interessante considerar que a pedra como tal não evolui moralmente, entitativamente, mesmo se burilada pelo cinzel miraculoso de Michelangelo. Os vegetais, movidos maquinalmente pelo geo e pelo heliotropismo procuram o que é bom. Nos animais irracionais, há uma certa evolução qualitativa na procura do bem, mas é desprovida da razão. São movidos por leis inatas ou por condicionamentos. O ser humano pode tanto se aviltar partindo de opções desastradas ou, colaborando com o Criador, atingir graus alcantilados de virtude.
Este complexo de coisas mostra que o ser racional é ético, moral, espiritual, voltado ao bem ou à Bondade Suprema: DEUS por quem, pelo livre arbítrio, pode optar ou não. Contudo, ele é inatingível pelo raciocínio, pois é indefinível. Se a razão não leva o homem à posse plena de Deus, ela é substituível pelo AMOR: “Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,16). Consequentemente o “sede perfeitos como o Pai Celeste o é”, especifica os humanos: Deus é sua razão de ser. Isto os leva aos irmãos em espírito de diaconia, de serviço. Assim, de provisoriamente cidadãos “terráqueos”, eles se sabem herdeiros da pátria definitiva, na eternidade. Sendo “microcosmos” na terra, eles se verão plenamente realizados na eternidade, em comunhão com quem os plenifica, superando qualquer nadificação ou o nonsense da vida sem descortínio. O nada é essencialmente contraditório; em sua autofagia pantagruélica jamais permitiria ao homem um átimo de existência.
A vida terrena é caminhada naquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6) até o amplexo pleno e definitivo, quando “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
Para tanto temos Alguém que nos acompanha, nos ilumina e nos plenifica. Assim, por mais que nossa caminhada terrena pareça se esvair corroída pelo tempo, ela conduz aos valores eternos.