Muros separatórios

Texto de P. Mauro Odoríssio, CP

Confesso: já é madrugada adentro, estou mais do que apurado, correndo contra o relógio, pois devo preparar apostilas para breve compromisso (retiro para teólogos). Assim mesmo, resolvi parar tudo para dar minha opinião. Queiram me tolerar, por favor, e se não for muito, peço que me leiam até o fim.

A imprensa, com razão, gasta muito papel e tinta e também bastante tempo nos sofisticados  veículos de comunicação, para considerar a decisão de Trump levantando muros entre os EEUU e o México; assim estrangeiros não entram na “pátria amada idolatrada, salve, salve” deles.

Todo mundo tem sua opinião, favorável ou contra, e eu tenho a minha. Acredito que meus leitores me tolerarão, me darão um devido espaço e refletiremos juntos.

Olhem que chego a ser favorável ao levantamento de muro. Acho, ainda, que deve tomar toda extensão, terrestre, marítima e aérea. Acrescento, na minha profunda “achologia”, que deve ter centenas de metros em seus alicerces, para que ninguém faça túneis mais profundos. Que o muro tenha dezenas de metros de espessura para que não seja perfurado. E que a altura supere a potencialidade de qualquer veículo espacial. Afinal, todo cuidado é pouco.

Parto disto, porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Não podemos confundir uma com a outra. Quem está do lado de cá é uma coisa e quem está do lado de lá, é outra. As cartas do baralho não podem ser misturadas. E vou além: acho que este muro vem muito tarde; deveria ter sido levantado há muitas décadas. Assim, os antecedentes do ilustre presidente não teriam “invadido” os EEUU. E ele não estaria tomando decisão tão estapafúrdia, para não dizer, desumana e maléfica. Ou melhor falando, nem existiria, nestas alturas da história. Queiram perdoar minha linguagem agressiva. Estou falando (ou escrevendo) desta maneira, apenas para evidenciar minha indignação.

E se os muros ultranacionalistas, segregacionistas e desumanos tivessem sido levantados antes, bem antes, mas antes que os ancestrais do Trump chegassem aos EEUU, não teríamos o que está acontecendo.

Mas ouso ir além, em minhas fantasias: por que eles não foram construídos e levantados antes da chegada dos brancos em terras americanas? Se assim fosse, os índios peles-vermelhas não teriam sido quase exterminados e suas terras expropriadas. A catástrofe não aconteceria. Possivelmente eles não usufruiriam o progresso atual, mas teriam o seu desenvolvimento. Não é justo sacrificar este desenvolvimento milenar em favor do referido progresso que, frequentemente é desumano, desestruturador de valores fundamentais.

É de se pensar: não seria melhor, com os tijolos que se constroem muros separatórios que praticamente jogam uns contra os outros, construir pontes que facilitassem o diálogo, a comunhão?

É de se insistir que o mundo criado o foi para todos os seres humanos, sem distinção e muito menos, discriminação. As barreiras e as fronteira são criação humana. O lema “Terra de Deus, terra de irmãos”, deve ser assumido, estimulado, refletido e alimentado.

E nem é de se dizer que se trata de modismos. Deus criou o mundo para todos, sem distinção. Ao lado disto é de se evocar Ef 2,13-14: “Mas, agora em Jesus Cristo, vocês (pagãos) que estavam longe, foram trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. Ele é a nossa paz. De dois povos ele fez um só. Na sua carne ele derrubou o muro de separação: o ódio”. A Paixão de Cristo é mais ampla do que se pensa.

Para o Escritor Sagrado, os dois povos, judeus e pagãos, são chamados a formar um único povo. Tudo o que distingue um do outro deve ser riqueza cultural que os caracteriza e que merece respeito. São patrimônios da humanidade. O discípulo de Cristo deve, ante decisões tão desumanas, deixar-se impregnar pelo espírito de comunhão e lutar pela fraternidade. É precisamente o amor que caracteriza o seguidor de Jesus (Jo 13,35).

Nada de ódio, nada de discriminação, nada de omissão. Que reine a fraternidade entre todos os povos.