Texto de P. Alcides Marques, CP
A inveja talvez seja o pecado capital mais fácil de ser entendido e um dos mais difíceis de ser vencido. Vejamos: uma vez que o pecado capital é capital por ser gerador de uma série de outros pecados, fica muito clara a quantidade enorme de pecados que surgem a partir do cultivo do sentimento da inveja.
Tal sentimento brota do instinto de autopreservação. É normal que todos nós tenhamos a coragem de lutar por um lugar ao sol, por nos fazer valer, pelo reconhecimento da própria importância diante da vida. O problema é quando este instinto nos domina e assim nos leva a uma postura de excessiva comparação com outras pessoas. Na vida sempre haverá um lugar para todos, mas o invejoso acha que seu lugar está sempre ocupado por outras pessoas.
Nem toda comparação com os outros é negativa. Muitas vezes, ela serve para nos estimular a dar o melhor de nós, a sempre crescer na vida. Existe uma espécie de “inveja” boa, aquela que nos leva a um aperfeiçoamento constante e que não tem como meta a destruição do outro. A inveja-pecado é aquela que não dá ao outro o direito de ser feliz, pois a felicidade do outro sempre gera um sofrimento interior no invejoso.
São Paulo Apóstolo ensina o caminho da solidariedade: “alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram” (Rom 12,15). O invejo faz um caminho contrário: ele se alegra com o sofrimento do outro e sofre com a sua felicidade. A inveja é, portanto, um veneno poderoso para a destruição dos laços de fraternidade. É triste você perceber que não consegue sentir felicidade com a felicidade dos outros; é triste você perceber que, mesmo à custa do seu próprio sofrimento, você não consegue dominar tal sentimento.
De certa forma é quase impossível vencer por completo tal impulso. A questão maior está em controlar a inveja; em não deixar que ela seja cultivada e nos destrua (muito mais do que às outras pessoas). Assim sendo, através de uma atitude de vigilância interior é que podemos perceber os momentos em que este sentimento emerge e, deste modo, vencê-lo na raiz. A isso chamamos de matar o mal pela raiz.
Você já deve ter ouvido a expressão “inveja mata” e foi exatamente assim que aconteceu, segundo a Bíblia, no primeiro homicídio que se tem notícia. Estamos falando de Caim e Abel (Cf. Gn 4,1-16). Caim era o irmão mais velho e cuidava da terra; Abel era o irmão mais novo e era pastor de ovelhas. A oferenda de Abel agradou a Deus, mas a de Caim não. Por isso, Caim ficou profundamente abatido e, dominado pelo sentimento de inveja, acabou matando seu irmão. As raízes da inveja quase sempre estão ligadas à inveja entre irmãos e a competição para ser o preferido do pai e/ou da mãe. A inveja é altamente destruidora e quase sempre direcionada às pessoas mais próximas. A pessoa não suporta e experiência de não ser o preferido.
A parábola dos trabalhadores da vinha (cf. Mt 20, 1-16) é bem ilustrativa da inveja. Segundo Jesus, os trabalhadores da primeira hora (fariseus) deveriam se alegrar pelo fato de que o patrão estava sendo bom para todos. Mas, ao contrário, eles se deixaram levar por este impulso de querer ser sempre melhor do que os outros. No final da parábola, o patrão diz: “Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?” (20,15).
Falamos acima da solidariedade. Mas dizem que é mais fácil a solidariedade na dor do que na alegria. É mais fácil chorar com os que choram do que alegrar com os que se alegram. Isso porque ninguém inveja o sofrimento dos outros, mas a felicidade… Faça uma experiência: pense numa pessoa próxima de você e pense numa possível notícia boa referente a esta pessoa e vá consultando os seus sentimentos e perceba até que ponto você fica realmente feliz com a notícia.
Em resumo: sempre teremos que conviver com este sentimento, mas ele pode ser controlado por uma boa espiritualidade.