Texto de Pe. Mauro Odoríssio, CP
Sob a iluminação da festividade de hoje, Natividade de S. João Batista, teço as breves considerações que seguem. Sei que muitos comemorarão o Santo na celebração litúrgica, outros em festividades populares. Reservo momentos para partilhar com os dedicados leitores os textos proporcionados pela liturgia.
Refletia com os irmãos, na Celebração Eucarística, que tudo e todos trazemos conotações “protológicas” e “escatológicas”, quero dizer, até mesmo as coisas que existem, antes de existirem, foram projetadas e no projeto, receberam determinada finalidade. Então, no presente, descobrimos um passado e um futuro significativos. A exequibilidade de tal projeto faz com que a coisa criada seja, ou não, boa.
Se as coisas, antes de passarem do nada para a existência, recebem finalidade, muito mais acontece com o ser humano por ser dotado de razão e mais ainda, de coração. A ele é dado dialogar com o Criador que não força ninguém a nada. Contudo, está aberto a especial diálogo. E a base dele é o amor vinculante.
Portanto, o ser humano antes de existir, foi amado por Deus. A partir de então, saiu do nada e passou à existência que é fruto do amor e abertura ao diálogo. É o que levou o Profeta a dizer: “…o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe, ele tinha na mente o meu nome” (Is 49,1). Em outras palavras, ele me amou primeiro e me gerou em seu coração.
Para que não nos percamos no decurso da caminhada, voltemos ao trivial do nosso dia a dia: a roupa que agora vestimos, ontem foi figurino. A comida que comeremos logo mais, agora existe como receita. E não é de se esperar que o ser humano seja fruto de planejamento mais nobre e elevado?
Ainda reforçando: agora temos existência ontológica, concreta, no ser. Bem lá atrás, ela era lógica, mental ou, melhor dizendo, cordial; estávamos aninhados no coração do Pai. Tudo, porém, em vista de finalidade sublime que não era imposta, mas não deixava de ser acompanhada amorosamente.
Significativamente, a Igreja marca a celebração da festa dos Santos, não na data de seu nascimento e sim, no da morte. E, para que fique bem claro, costuma chamar essa data de natalício. É que o santo ou a santa, ou os que eles representam, depois da peregrinação terrena na graça e na santidade, chegaram ao amplexo amoroso e eterno, quando, em comunhão, Deus lhes será tudo com todos (1Cor 15, 28).
Além de celebrar o martírio de S. João Batista, a Igreja festeja também, como acontece neste dia 24 de junho, o nascimento do Precursor.
Precursor? Sim. O que vem antes, o que prenuncia, o que prepara o caminho, etc. E foi esta a missão de nosso Santo: preparar, na história e nos corações, a vinda do Senhor (Lc 1,13-17). Tanto assim que, ainda no seio materno, extraordinariamente anunciou a presença do esperado Messias (Lc 1,39-44).
Uma vez crescido, conforme Lucas (Lc 3,1-14), retirou-se ao deserto onde vivia sobriamente e era procurado por multidões. A todos pregava a penitência, a saber, a mudança de vida. Cumpria-se, assim, o que fora anunciado pelo Profeta (Is 40,3-5).
Muitos que o procuravam viam nele o esperado messias e ele testemunhava não sê-lo, chegando a afirmar que nem era digno de desatar as correias das sandálias do tão esperado redentor. Batizou Jesus por causa da misteriosa insistência deste (Mt 3,13-16). E, no devido momento, testemunhou que Jesus é o verdadeiro Cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1,29).
É de todos, de modo especial dos devotos de S. João Batista, acolher o testemunho do Santo a respeito de Jesus. Por ele guiados e iluminados, devemos mais e melhor acolher o Senhor a quem ele tanto venerou e testemunhou. Assim sendo, as festividades feitas em sua honra, mais terão sua razão de ser, pois o Santo ser reconhecerá como o Precursor de Jesus em todos os tempos.