Norton I

Texto de P. Alcides Marques, CP

Você sabia que os Estados Unidos já tiveram um rei? Quer dizer: não rei no sentido estrito do termo, como o Brasil com Dom Pedro I e II. É que no ano de 1859, um cidadão de São Francisco (Califórnia) se autoproclamou rei sob o nome de Norton I. Ele ficou conhecido na história como “Imperador dos Estados unidos” (posteriormente, se proclamou protetor do México). O interessante na história deste personagem não é o fato do mesmo ter se proclamado rei, mas a maneira como as pessoas da cidade lidaram com este fato. E é isso que vamos refletir.

Norton nasceu na Inglaterra e sua família mudou para a África do Sul. Ao morrer, o pai lhe deixou uma grande herança. Norton viajou por vários lugares, inclusive esteve no Brasil, onde conheceu o reinado de Dom Pedro II. Foi parar nos Estados Unidos, mais precisamente em São Francisco. Investiu tudo o que tinha em especulação com arroz. No início, foi até bem sucedido; mas depois, fracassou e perdeu tudo o que investira. Desapareceu, por um tempo, até que voltou como o Imperador Norton I.

A população da cidade ficou seduzida pela figura carismática de Norton. Uma pessoa de índole dócil e amável. Norton publicou vários decretos, visitava as igrejas, as repartições públicas; criou um sistema de impostos e uma moeda própria. As pessoas se relacionavam com ele como se fato ele fosse um Imperador. Quando Norton morreu, uma grande multidão participou de seus funerais.

A questão que nos intriga é a seguinte: por quê? Por que as pessoas deram apoio a um delírio; a uma pessoa completamente desequilibrada e fora dos eixos? Muitas respostas são possíveis. Talvez por interesses econômicos; talvez pelo seu jeito simples de ser diante de uma república indiferente e distante do cotidiano das pessoas; talvez pelo caráter inusitado de suas ações. O certo é que muita gente participou do delírio de Norton.

Infelizmente, esta tendência social parece estar presente em todos os tempos e lugares. Inclusive no nosso meio. Por mais lunática que seja uma pessoa, ela sempre vai conseguir arrebanhar uma parcela significativa de seguidores. Parece que sempre existirão pessoas dispostas a acreditarem nos nossos delírios. Os vendedores de ilusão tem sucesso, pois sempre existirão compradores de ilusão. Norton não foi o primeiro e nem será o único. Infelizmente.

Precisamos, portanto, tomar cuidado para não sermos nós os seguidores destes lunáticos. Somos seguidores de Jesus Cristo e não da pessoa “x” ou “y”. Nós devemos construir nossa vida cristã na fidelidade à Palavra de Deus, aos ensinamentos da Igreja e aos ditames de nossa consciência. Cuidado com “novidades” e “salvadores da pátria”!

Mesmo o querido papa Francisco não pode ser endeusado. Por mais que possamos admirá-lo e por mais que gostemos de suas ideias e atitudes, não podemos esquecer que ele é apenas uma pessoa humana; uma pessoa humana muito especial, mas uma pessoa humana. Fica o alerta de São Paulo Apóstolo. “Explico-me: cada um de vós diz: ’eu sou de Paulo!’ ou ‘eu sou de Apolo!’ ou ‘Eu sou de Cefas!’, ou ‘Eu sou de Cristo!’ Cristo estaria assim dividido?” (1Cor 1,12-13). Pense bem: somos seguidores de Jesus Cristo e somente de Jesus Cristo. Não precisamos de mais nada e de mais ninguém.