Texto de P. Alcides Marques, CP
São Paulo Apóstolo, na carta aos Filipenses, apresenta a dinâmica de vida de Jesus Cristo. Tal dinâmica pode ser sintetizada em três palavras: desprendimento, encarnação e serviço. A vida toda de Jesus foi sempre desprendimento, encarnação e serviço. Falamos em dinâmica porque se refere a algo que põe em movimento (“dynamis” = energia, força) e que se faz presente de uma forma integrada; de tal forma que não pode separar estes três aspectos. A nossa reflexão tem como objetivo não só apresentar a dinâmica de Jesus, mas de contribuir para que cada um de nós tome consciência de que esta dinâmica deve fazer parte da vida de todos nós enquanto seguidores de Jesus Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2,5).
Desprendimento – “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo” (Fl 2,6-7a). Desprendimento diz respeito à capacidade de se rebaixar diante do mais fraco. É muito comum nós nos rebaixarmos diante do mais forte; mas, o caminho de Jesus, pede o rebaixar-se diante do mais fraco. Lembremos da parábola do Bom Samaritano: “aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele” (Lc 10,34). O Bom Samaritano não perguntou se aquele homem caído era considerado em si mesmo próximo dele, tornou-se próximo daquele que era, no momento, mais fraco. Isso se chama desprendimento. Ele renunciou à condição de homem saudável e se fez homem “ferido”. Não fisicamente, mas espiritualmente ferido; pois ele deixou-se tocar pela dor do outro.
Encarnação – “(…) asselhando-se aos homens. E sendo exteriormente reconhecido como homem (…)” (Fl 2,7-8). A encarnação se refere ao fazer-se igual. Igual não no sentido de ser uma cópia do outro, mas de olhar o outro de igual pra igual; de ver o mundo com os olhos do outro; de se colocar no lugar do outro. Foi o que Jesus fez durante a sua existência terrena. Ele não olhava as pessoas com o olhar dos fariseus, um olhar de cima pra baixo, mas olhava de frente. Na narração da cura do homem de mão atrofiada, ele pede para o homem ir ao centro (cf. Mc 3,3), ou seja, ele faz com que todos olhem para este homem oprimido e vejam nele o destinatário principal do amor possível. É assim que nós deveríamos nos comportar: aprender a fazer-se igual ao outro. Fazer-se criança para as crianças; fazer-se jovem para os jovens; fazer-se idoso para os idosos; fazer-se enfermo para os enfermos; fazer-se pobre para os pobres.
Serviço – “(…) assumindo a condição de escravo (…)” (Fl 2,7) – O escravo pertence ao seu senhor. No caso cristão, não é ser escravo de uma pessoa em particular. A atitude de assumir a condição de escravo é sinônimo de ser escravo do amor fraterno e solidário. O discípulo de Cristo deve deixar-se dominar pelo impulso divino de amar gratuita e incondicionalmente. Essa força, esse dinamismo, precisa prevalecer sempre. A vida de Jesus foi vivida no amor-serviço: “eu não vim para ser servir” (Mc 10,45). Por isso mesmo que o Mestre de Nazaré nos ensina um caminho diferente do normal: “se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos” (Mc 9,35).
A nossa igreja precisa urgentemente redescobrir este dinamismo de Jesus e deixar-se guiar por ele. A questão maior não está em fazer prosélitos, criando estratégias de marketing para trazer mais gente para as nossas comunidades. O que precisamos mesmo é de adquirir um novo significado para o mundo em que vivemos. A igreja primitiva foi capaz de vencer as fortes estruturas do império romano com a força de um projeto novo de vida. O que as pessoas estão buscando mesmo, em todos os tempos e lugares, é um sentido e significado para suas existências. Para Jesus, este sentido está em Deus e naquilo que agrada a Deus: desprendimento, encarnação e serviço. E pra você?