A páscoa de ontem, de hoje e de amanhã

Texto de P. Alcides Marques, CP

“A páscoa não é só hoje, a páscoa é todo dia!” Provavelmente, você já ouviu este canto no tempo pascal (do domingo da ressurreição até pentecostes). É um canto realmente bonito e exprime algo de muito importante na vida cristã: o reconhecimento da dimensão pascal de nossa existência. A páscoa aconteceu, acontece e acontecerá.

Os discípulos de Jesus tiveram o que se pode chamar de experiência do Ressuscitado, ou seja, viram mesmo o Senhor Ressuscitado. As narrações bíblicas do Novo Testamento deixam bem claro que os primeiros cristãos acreditaram na ressurreição de Cristo, não porque encontraram o sepulcro vazio, mas porque viram o Senhor Ressuscitado. Não por uma razão negativa (ausência do corpo), mas positiva (presença plena, completa, revelada). O mundo da morte não venceu Jesus. Tentou, mas não venceu!

Maria Madalena, por exemplo, ao ver o sepulcro vazio diz aos apóstolos: “Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). No entanto, quando ela ouve de “Alguém” a palavra “Maria” (Jo 20,16), reconhece que está diante do Senhor Ressuscitado e vai logo dizer aos discípulos: “Vi o Senhor!” (Jo 20,18).  Esse ver, em grego “ophté”, tem um sentido passivo e quer dizer propriamente, deixar-se ver. Somente os discípulos e discípulas viram o Senhor porque ele deixou-se ver para eles. Um observador neutro não veria o Senhor Ressuscitado.

Assim sendo, não podemos falar da experiência do Cristo Ressuscitado como um fato histórico – como é o caso da sua paixão e morte. Não podemos afirmar assim porque tal experiência foi exclusiva dos seus seguidores; foi uma experiência de fé e na fé. Entretanto, foi uma experiência real, verdadeira; testemunhada sobretudo pelo martírio da grande maioria dos apóstolos. Em resumo: a experiência do Cristo Ressuscitado se deu em um momento histórico, claro, mas tal experiência não pode ser entendida como um acontecimento histórico; pois é exclusiva dos primeiros cristãos. Só é possível crer no Cristo ressuscitado através do testemunho daqueles que o viram ressuscitado. “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!” (Jo 20,29).

Como o Senhor ressuscitou, todos ressuscitaremos com Ele. “Com efeito, visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos” (1Cor 15,21). O testemunho da ressurreição de Cristo traz embutida a esperança da nossa ressurreição. Cremos (hoje) que Cristo ressuscitou (no passado) e que ressuscitaremos (no futuro).

Mas a nossa ressurreição não deve ser entendida apenas como uma esperança futura. A fé na ressurreição (de Cristo e nossa) deve se constituir numa força vital; numa energia capaz de impulsionar sempre o nosso ser para frente. E isso deve acontecer todos os dias. A páscoa é todo dia! Toda vez que o amor vencer, a ressurreição acontece. Toda vez que deixarmos para trás as experiencias cotidianas de morte (pecado, maldade, egoísmo, violência, exploração), a ressurreição acontece.

Esta é a nossa missão maior no mundo: testemunhar sempre o Cristo ressuscitado! A sua presença invisível – sobretudo na celebração eucarística (“anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição!”) – e a sua presença em todos os acontecimentos, momentos e situações em que a vida fala mais alto.

Que tal vermos a ressurreição acontecendo todos os dias? Como? Quando deixamos de lado a sofisticação de uma existência vazia e caminhamos em direção a uma existência-para-os-outros, na solidariedade, no amor-serviço, na simplicidade. Quando presenciamos a união dos pobres e pequenos em busca de uma vida mais digna. Quando um homem ou uma mulher se libertam da escravidão das drogas em direção a uma vida de lucidez e de fraternidade. Quando um filho volta pra casa e é acolhido amorosamente pelos pais.

Ressurreição é a vitória da vida! Aleluia, aleluia!