Texto de P. Alcides Marques, CP
O pensador Erich Fromm tem uma obra chamada “a arte de amar”. Ao falar do amor materno, o autor especifica a qualidade deste amor: é um amor incondicional; a mãe ama o seu/sua filho/a simplesmente por ser o “seu” filho e não porque atende esta ou aquela expectativa. É claro que a mãe também tem expectativas em relação aos seus filhos, mas estas expectativas não irão condicionar o seu amor. Nos presídios, a maioria das visitas são de mães. Uma mãe poderia dizer o seguinte: eu amo o meu filho porque eu não saberia como não o amar.
Embora este amor seja a coisa (humana) mais linda que existe neste mundo, ele se constrói com uma forte dose de sofrimento. Imagine você ter que amar uma pessoa e, ao mesmo tempo, respeitar a sua liberdade. O amor verdadeiro exige a liberdade. Mas nem sempre a liberdade vai ao encontro do amor. As mães são especialistas em sofrer pelos seus filhos. Muitas até se submetem (o que não é certo) a maridos rudes e violentos por causa dos filhos. Muitas passam a vida em lágrimas por causa dos filhos. Tudo em nome desse amor incondicional.
Nem toda mulher que gera filho se comporta como mãe. Infelizmente, nem todas as mães são dignas dos seus filhos. A maternidade que estamos tratando aqui não é uma questão simplesmente biológica, mas de escolha; de amor que cuida de quem ama. As mães adotivas também são mães. Lares sem a presença da mãe biológica podem muito bem conviver com a maternidade dos pais. Isso mesmo! Tem homens que são pais e mães ao mesmo tempo.
É por isso que o amor de mãe é o amor mais parecido com o amor de Deus. É assim que Deus nos ama. Ama porque somos seus filhos(as). Ama porque não conseguiria não amar. Mesmo que estejamos mergulhados no pecado, ele não vai deixar de nos amar. O teólogo Moltmann fala de Deus como de um pai maternal. É pai, mas ama com amor de mãe.
O profeta Isaias compara Deus com uma mãe. “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria jamais” (Is 49,15). Quem fala na verdade é o próprio Deus. E vai além. Mesmo que existisse (e existe) tal mulher, Deus jamais se esqueceria do seu povo, dos seus filhos/as. Isso é maravilhoso! Deus é a melhor mãe que pode existir.
No novo testamento, o próprio Jesus se compara a um animal que é modelo de mãe. Ao lamentar a falta de fé do povo, ele exclama: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os enviados de Deus, quantas vezes quis ajuntar os teus filhos, como a galinha abriga a sua ninhada debaixo das asas, mas não o quisestes!” (Lc 13,34; também Mt 23,37).
Não podemos esquecer também da nossa mãe espiritual Maria Santíssima. Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, que disse o seu sim aos desígnios de Deus e enfrentou com altivez os sofrimentos impostos por esta decisão e por este amor. Na hora da cruz, Jesus nos deu como mãe; uma vez que o discípulo amado representa todos nós. “Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: ‘mulher, eis aí o teu filho.’ Depois disse ao discípulo: ‘eis a tua mãe’. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a casa” (Jo 19,26-27). Levar para a casa indica uma atitude de vida: colocar Maria em nosso interior; cuidar dela, honrar seu nome e, sobretudo, deixar que ela cuide de nós.
Como estamos falando de maternidade, todas as mulheres deveriam mergulhar nesta imensa sensação de sentir-se mãe. Mesmo que não tenha tido os seus filhos biológicos. O que importa mesmo é a capacidade de se dedicar incondicionalmente a algo ou alguém. Ser mãe é sempre uma escolha.