P. Eugênio Mezzomo, CP
Proposta para um momento de meditação (na igreja, no quarto, na natureza etc)
Texto: Ef 3, 14-21. Objetivo: Gerar Cristo em nós.
Maria se encontrou grávida e deixou Cristo crescer dentro dela. Não fez aborto. Durante nove meses, Cristo foi crescendo lenta mas seguramente. É o que se espera de cada um de nós no Advento para que haja Natal. Ainda que lentamente, Cristo deve ir crescendo dentro de nós, pois Cristo nos é dado e quer crescer em nosso modo de ser, de agir e de amar. Não sufocar, mas, abrir espaço e alimentar a vida de Cristo no nosso modo de agir e ser.
O apóstolo Paulo chega a dizer: “Já não sou eu que vivo, mas, é Cristo que vive em mim”. E em Ef 3,17, que propus para meditação, ele nos diz: “Que o Cristo habite em vós pela fé”. Temos a missão de fazer Jesus crescer dentro de nós pela fé, sem abortá-lo, como fez Maria. Se ele crescer o suficiente, poderemos fazer acontecer o Natal, num parto que irá acontecendo na missão dentro do mundo. Será um parto realizado de muitas maneiras, seja pela palavra, pelo exemplo e até pela nossa simples presença de fé e de amor.
Cristo nascerá no mundo através de nossa contribuição e colaboração, desde que O deixemos ficar sempre maior em nós pela gestação de vida na fé. Sem gestação de Jesus, a gravidez é falha, falsa e não vai dar em nada. Essa gestação é explicada desde o início da Igreja e pelos primeiros escritores, que a denominaram de INABITAÇÃO DE DEUS. Agostinho prefere dizer que Deus é o mais íntimo de nosso íntimo, porque é lá que Ele gera a vida e nos mantém vivos. Nós nos preparamos para o Natal, portanto, ao fazer Jesus crescer em nós para depois apresenta-lo ou gera-lo e presenteá-lo ao mundo. Será o nosso Natal. Talvez não apareçam pastores ou reis magos, mas, nos propomos a gemer e sofrer se o parto for difícil. O parto de Jesus será luz para mundo, que até hoje continua sem luz ou sem sentido.
Clodovis Boff já escreveu dois grossos livros sobre isso (O Livro do Sentido I e II) e está preparando um terceiro. Ele se preocupa em mostrar onde se pode encontrar sentido para a vida ou, se não o encontramos, como se vai acabar no escuro do sem sentido. Já Viktor Emil Frankl mostrara a importância de ter um sentido na vida, mesmo se este for o dinheiro, o casamento ou poder, honra e glória. Mas, quando fala da PRESENÇA IGNORADA DE DEUS, mostra que o sentido último de todos deveria ser Deus. Um sentido que não seja Deus pode um dia fracassar e continuamos na escuridão.
Lc 14, 25-35 nos mostra a importância da escolha desse verdadeiro sentido. No texto, Cristo, que nasceu no Natal, se coloca como única esperança e caminho para garantir vida e vida em abundância. É urgente, portanto, fazer acontecer o Natal dentro de nós. E precisamos entrar em dores de parto, porque “se o meu viver é Cristo” deveremos talvez gemer e saber sacrificar muitas coisas e fazer aparecer o rosto de Cristo para nós e para o mundo.
PARA REZAR, releia o texto e descubra o que Paulo lhe sugere para que Cristo cresça e faça acontecer sua gravidez. Ele começa rezando e pedindo ao Pai a riqueza de Sua Glória que nos vem em Cristo pelo seu Espírito. Fala do homem interior, porque a gravidez se dá antes dentro de nós, em nosso “útero”. Paulo da Cruz explica isso quando fala do SAGRADO DESERTO INTERIOR. Deus está em nós e como que poderíamos nos ajoelhar diante de nós mesmos para adorar o Deus misterioso que nos supera em tudo.
Ao lembrar o Natal, nos diz o papa Francisco em Admirabile signum, podemos fazer uma oração transformadora e benéfica. Ele sugere que a contemplação do presépio nos faz descobrir muitas coisas, como a humanidade e proximidade de Jesus conosco. Percebemos a fragilidade de Cristo e a nossa. Francisco explica o simbolismo das figuras e pessoas que entram em cena e a lição de vida que nos leva a interiorizar os ensinamentos do presépio. Se possível, leia este documento, que ele publicou no primeiro domingo do Advento desse ano.
Como Jesus começa a viver dentro de nós? Paulo diz que isso se dá pela fé, que faz Cristo habitar dentro de nós. E assim nós somos arraigados, fundados ou mergulhados no amor de Deus. Desse jeito, nos diz o texto, vamos compreender a largura, o cumprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, como também conheceremos o amor de Cristo. E esse conhecimento excede a todo o conhecimento. A nossa gravidez é deixar crescer o AMOR. DEUS É AMOR e quem ama faz presente Deus (cf 1Jo 4). O amor engravida e faz nascer Deus.
Como a fé é uma graça, um dom, peça-a repetidamente. Seja humilde e reconheça que sua fé é ainda muito pequena. Peça muito.
Desse jeito, nos diz ainda o texto, o poder Dele vai agindo em nós e dentro de nós e nos torna capazes de ir muito além do que podemos pedir ou conceber. Tudo isso para que Cristo seja tudo em todos e a Cristo seja dada a glória a Ele pelos séculos. Agora podemos entender melhor a frase de Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
Paulo fala em acontecimentos, que nem sequer sabemos pedir ou conceber, porque pouco entendemos do mistério da Divindade. “Se compreendes, não é Deus”, nos diz Santo Agostinho. Nisto estão de acordo os místicos de ontem e de hoje.
Relembrando o Natal, nós, os cristãos, acreditamos que o Deus nos vem por Jesus Cristo, e que deveria crescer e nascer em cada um de nós, para que haja nascimento Dele hoje.
PERGUNTAS:
- Como Cristo vai crescendo dentro de você?
- Sua gravidez de Jesus sofre perigos de abortar?
- Quais as ações concretas que levam adiante sua gravidez de Jesus?