Amar. Quem? Como?

Texto de Pe Mauro Odorissio, CP

Instinto inato, leva animais se procurarem como macho e fêmea. Contudo, o encontro não se dá da mesma maneira com todos; entre eles existem comportamentos diferenciados. Para olhos menos críticos tudo é igual; mas, não para os dos estudiosos. Sendo comportamentos diferenciados, algo os leva a tanto. Que é? Sintamos o desafio do questionamento. Não sejamos superficiais.

Os insetos na maioria, e bom número dos animais, se acasalam em fração de segundos ou pouco mais. A partir de então se separam como se nada tivesse acontecido. Passam a se ignorar da mesma maneira como antes se ignoravam.

Outros animais se acasalam e convivem por um período. Assim os pássaros: com o acasalamento passam a juntos construírem o ninho e, mais juntos ainda, criam os filhotes. Possivelmente até se reencontram no ano seguinte. É um comportamento bem diferenciado do grupo anterior.

Há quadrúpedes e aves que se acasalam, têm suas crias, mas, diferentemente dos grupos anteriores continuam juntos sem acasalamentos fora do cio. Isso é intrigante e pede considerações. É o que acontece com a arara azul, com as barulhentas e alegres maritacas, com os pombos e tantos outros. Insistindo: esses comportamentos não podem passar em brancas nuvens.

Paul Chauchard e equipe da Sorbonne (França) constataram que, como os demais animais, as mariposas se acasalam só na época do cio e que o acasalamento é questão de segundos. (Curiosidade: até a distância de 14ks o macho sente a presença de fêmeas no cio). Extraindo a glândula odorífera que atrai os machos e colocando-a ao lado da fêmea, eles não a procuravam no acasalamento, mas sim, a glândula que, por sinal, deve ser microscópica.  Então, o “amor” deles não é “pessoal”, mas, animal, puramente mecânico, instintivo. Ele não quer a mariposa como tal e sim, parte dela. Trata-se de mero acasalamento ou justaposição “genitalizados”.

Mas, como se falou acima, existem outros animais que têm comportamento diferente. Investigados, evidenciaram ter córtex nervoso mais desenvolvido que os demais animais. A conclusão da equipe de pesquisa é lógica: o principal “órgão sexual” é o cérebro e não o “genital”. Então, mente perturbada, desestruturada, leva a comportamento “sexual” igualmente perturbado.

Com estas considerações chegamos às interrogações do título que encima o nosso estudo: “Amor. Quem? Como?”. Já se vislumbra, assim, a fundamentação da sadia antropologia sexual e dessa maneira vamos chegando, em parte, ao objetivo de nosso estudo: amar não é só ou simplesmente achegar-se a alguém para tirar vantagens pessoais, por mais que venham ser corretas.

Os que são iluminados pela fé vislumbram vôos mais altaneiros e acatam a proposta de Cristo: “não há maior de amor do que dar a vida por quem se ama” (Jo 15,13). Para que não paire dúvidas o Mestre propicia exemplo caríssimo: “amai-vos uns aos outros como vos amei” (Jo 15,12).

Simplificando: ama de verdade quem, à exemplo Cristo, é capaz de se imolar para o bem da pessoa amada. O resto é caricatura ou embrião de amor. Trata-se de “amor” à imagem dos animais inferiores: só pensar em si, ignorar e instrumentalizar quem é pretensamente amado.

Há dias, no término do período natalício, a liturgia eucaristia propiciou a reflexão de 1Jo 4,7-10. O texto recomenda que nos amemos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. A conta gotas,  esse amor é colocado de maneiras diferentes nos animais que vão se comportando conforme a graduação recebida. Aos humanos foi dada uma potencialidade amorosa incomensurável. Lamentavelmente, tantos preferem se nivelar aos animais inferiores.

O texto citado nos recorda que o amor de Deus se nos tornou visível pelo Filho único enviado. Acrescenta, ainda, que foi para que tivéssemos a vida, e que não fomos nós que amamos primeiro a Deus, e sim, que foi ele quem nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Coclui-se daqui, que o Natal se direciona para o Calvário; o Menino assumiu corpo para se doar totalmente na cruz como “vítima expiatória pelos nossos pecados” (1Jo 4,10).

Amar de verdade é não se deixar condicionar pelo explorador mundo hedonista, faminto do prazer a qualquer custo. É falso o amor que ignora totalmente o outro

Amar, como? Só como o Crucificado, contando com a graça divina. Mas quem? Todos, sem exceção. O resto é exploração.