Texto de P. Alcides Marques, CP
Sabemos que a palavra orgulho pode ser utilizada em sentido positivo, como: tenho orgulho de minha família; orgulho dos amigos que tenho; da minha profissão etc. No entanto, na maioria das vezes, orgulho é sinônimo de soberba e arrogância. É o primeiro da lista dos pecados capitais. Santo Tomás de Aquino chegou a colocá-lo fora da lista. Isso porque ele estaria acima de todos os outros e teria uma ligação com todos os outros. Mas a tradição acabou mantendo-o na lista como o primeiro, uma espécie de locomotiva dos pecados.
O orgulhoso é aquele que nutre (cultiva) um conceito exagerado de si mesmo em detrimento dos outros. São Paulo Apóstolo ensina como deve ser o conceito que cada um deve ter de si mesmo: “Eu peço a todos e a cada um de vós que não tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que convém, mas uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da fé que Deus dispensou a cada um” (Rm 12, 3). O orgulhoso é aquele que se julga sempre o maior, o melhor, o mais isso ou o mais aquilo. Podemos dizer que é aquele que olha todo mundo de cima para baixo; aquele que não vê qualidade em nenhuma outra pessoa a não ser em si mesmo. É uma espécie de ególatra, um adorador de si mesmo.
Nos tempos atuais fala-se muito em autoestima. Pessoas que fazem cirurgias estéticas ou que passam por um processo de emagrecimento dizem sentir aumentar a autoestima. Precisamos ter cuidado com este conceito, pois o mesmo pode trazer embutido o veneno do orgulho. É por isso que São Paulo fala em uma justa estima, derivada da sabedoria e da fé. Se você olhar para dentro de si mesmo, vai encontrar muitos motivos para se sentir vivendo e vivendo plenamente. Sobretudo, ao perceber que é uma pessoa em missão e que tem uma importância única na vida de muitas outras pessoas.
Raoul Follereau, conhecido como o “apóstolo dos leprosos”, escreveu um livro intitulado: “ninguém tem o direito de ser feliz sozinho”. O orgulhoso diria: somente eu tenho o direito de ser feliz. Os pecados capitais provêm de impulsos interiores descontrolados. Uma coisa é a busca da felicidade, de se sentir valorizado, importante; outra coisa é transformar isso em um objetivo de vida. O orgulhoso vive em função de si mesmo, como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Quando Jesus fala em conversão (cf. Mc 1,15), devemos entender esta palavra no sentido grego de metanoia, que quer dizer mudança (=metá) de mentalidade (=nous, noia). O processo contínuo de conversão cristã exige uma maneira nova de entender as coisas. Olhar a vida como ela é, encarar a realidade de frente. Isso é sabedoria. Se você pensar bem, o que importa mesmo na vida é amar (quem você realmente ama?) e ser amado (quem realmente ama você?). E mesmo que você não se sinta amado – o que é difícil acontecer -, Deus te ama e você se ama (ou deveria se amar). Entenda o seguinte: quanto mais orgulhoso (soberbo) você for, mais vai ser ridicularizado pelas pessoas; vai ser objeto de piadas dos outros. Você é quem é e pronto (e ponto!). Seja feliz assim.
Um remédio contra o orgulho é o cultivo da humildade. Humildade no sentido de ter os pés no chão. Lembremos sempre do conselho de São Pedro: “Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus para que na ocasião própria, vos exalte” (1 Pd 5,6). A luta contra o orgulho é constante e a vitória contra o mesmo é o preço que temos que pagar para viver plenamente como filhos (as) de Deus.