Texto de P. Alcides Marques, CP
Sexta bem aventurança: “felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). A pureza de coração não deve ser confundida com pureza moral. Levando-se em conta que na Bíblia, “coração” não simboliza os nossos sentimentos, mas o íntimo, o interior do ser humano, a fonte das decisões. A bem-aventurança diz respeito àqueles que não deixam que a maldade contamine os seus pensamentos. Ser puro de coração é pensar o bem e, por conseguinte, jogar para fora todos os impulsos interiores para planejar o mal. Cultivar sempre o hábito de manter-se envolvido pelos bons pensamentos.
O pano de fundo da bem-aventurança é o Salmo 24: “Quem subirá à montanha do Senhor? Quem se manterá no seu lugar santo? – O homem de mãos inocentes e de coração puro, que não tende para o mal e não jura para enganar”. O salmo quer indicar o tipo de pessoa que é digna de se aproximar da morada, da casa de Deus. A resposta une pensamento e ação: aquele que não pensa o mal e aquele que pratica a justiça.
No capítulo 15 do Evangelho de São Mateus, confrontando a idéia tradicional de impureza dos alimentos, Jesus ensina que a verdadeira impureza é a que procede do interior da pessoa, do seu coração. “O que sai da boca procede do coração e é isso que torna o homem impuro…” (15,18-19). O que Jesus quer dizer é que do interior da pessoa deveria proceder somente o bem. Aquele que tem os seus pensamentos voltados para o bem, para o lado bom da vida e das pessoas; esse se sentirá invadido pelo desejo de falar palavras de bem e, sobretudo, de fazer o bem.
Muitas pessoas gostam de nutrir pensamentos ruins a respeito das outras pessoas. Pensamentos que condenam, que acusam. E o pior, é quando esses pensamentos se traduzem em projetos para prejudicar os outros ou projetos de vingança. E assim, sem perceber, a pessoa vai atraindo o mal para a sua própria vida. Acaba trocando o prazer de viver pelo prazer de fazer o mal, trocando a felicidade pelo sadismo. A experiência nos ensina que as pessoas que se sentem verdadeiramente felizes, não gostam de falar mal dos outros ou de fazer o mal aos outros. Quem cuida da bondade de seus pensamentos, está, ao mesmo tempo, contribuindo para que o bem prevaleça na vida dos outros e em sua própria vida.
É necessário pensar bem da vida. Por mais difíceis que sejam as circunstâncias e por mais desafiadores que sejam os problemas, vida sempre tem algum significado. É um sinal de sabedoria ter a capacidade de sempre purificar a mente para não ficar prisioneiro de idéias e de experiências do passado. Quem pensa bem da vida, crê que a vida é maior do que todos os problemas. Quem pensa bem da vida, não vive se atormentando em busca de explicações para tudo. Vive simplesmente.
No Salmo 42, ver a Deus é apresentar-se diante de Deus em seu templo, tomar parte no culto que lhe é prestado. “Minha alma tem sede de Deus. Quando irei ver a face de Deus”. Ver a Deus é poder participar da intimidade divina, sentir sua proximidade. No caso da bem-aventurança não se trata de ir a templo algum, mas de acolher a presença divina que se manifesta nos bons pensamentos.