Cuidado com os santos!

Texto de P. Alcides Marques, CP

A nossa espiritualidade católica está muito marcada pela presença dos santos e santas de Deus. Falamos agora de santos em seu sentido convencional: os santos canonizados. Já é tradicional, pensar a nossa ligação com eles em três sentidos: a intercessão (quando pedimos algo por intermédio deles), a devoção (quando cultivamos práticas religiosas relacionadas a eles) e a imitação (quando buscamos em suas vidas uma inspiração para as nossas próprias vidas). Sem dúvida, a maior riqueza está no terceiro sentido: agir, se comportar, ser cristão, inspirados em seus exemplos de vida. No entanto, a nossa tendência de idealização dos mesmos pode mais prejudicar do que ajudar. Continue lendo “Cuidado com os santos!”

Deus em primeiro lugar?

Texto de P. Alcides Marques, CP

O senso comum é o caminho mais fácil, mas nem sempre nos ajuda. Muitas vezes, ficamos tão acostumados com algumas ideias, que nem prestamos atenção direito em suas consequências. Uma dessas ideias é a questão de colocar Deus em primeiro lugar. Estamos em época penitencial – mais precisamente na quaresma – e em nossos exames de consciência quase sempre nos vem a pergunta: “estou colocando Deus em primeiro lugar?”. Veremos que tal pergunta, por incrível que pareça, não tem sentido. A ideia de Deus em primeiro lugar não é uma boa ideia.

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Ter é mais que dinheiro

Texto de P. Alcides Marques, CP

Estamos tão acostumados a falar que ter não é o mais importante da vida, que quase sempre associamos o ter com dinheiro, capital ou coisas materiais. Sem dúvida, tudo isso é ter mesmo. Só que precisamos ampliar este conceito para “coisas espirituais” também. E para pessoas também. Aís sim podemos dizemos que não somos o que temos.  A consequência para a vida é bem mais forte.

No mundo em que vivemos, marcado por uma cultura individualista, consumista e da aparência, não é fácil se libertar da idolatria do ter. É mais fácil falar do que, de fato, vivenciar a experiencia de simplesmente ser. Isso não quer dizer que devemos ou até podemos viver sem ter. Precisamos das coisas e das pessoas. O que está em questão é o fato de colocar o ser em função do ter e não o contrário. “Quem quiser salvar a sua vida, vai perde-la…” (Marcos 8,35).

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Amar os inimigos

Texto de P. Alcides Marques, CP

Se somos cristãos, somos por causa de Jesus Cristo. E, assim sendo, precisamos frequentemente ajustar nosso modo de ser e agir aos ensinamentos do Mestre. Lembremos, por exemplo, do apelo de Maria nas bodas de Caná: “fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). O problema é que nem sempre o que “Ele disse” é fácil de ser feito. Existem situações que mexem profundamente nas entranhas do nosso ser, o que nos deixa espiritualmente angustiados. No entanto, a proposta cristã não visa o nosso sofrimento, mas a nossa felicidade. Como, então, ser feliz, sabendo desta exigência de amar o inimigo? Como vencer o espírito de vingança?  Vamos juntos refletir sobre este desafio.

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Águas mais profundas

Texto de P. Alcides Marques, CP

Vivemos numa época em que não é muito fácil ser diferente, original, único. É comum ouvirmos das pessoas que elas até que gostariam de serem diferentes da maioria, mas que, infelizmente, são obrigadas a agirem como todo mundo age. Existe uma espécie de obsessão, por medo de desaprovação social, de ir contra a corrente. No caso de nós cristãos o necessário testemunho da fé fica fortemente comprometido. Se for para se comportar como todo mundo, qual seria então o motivo de sermos cristãos? Somente para ficar rezando e louvando a Deus nos templos religiosos? Haveria então alguma diferença entre ser ou não ser cristão?

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Ácribós = Acuradamente

Texto de Pe. Mauro Odorissio, CP

Antes de iniciar propriamente o texto do seu Evangelho, em linguagem acurada, elegante e demonstrando estar livre das fontes que usará no corpo do seu livro, Lucas escreve que investigou tudo “acuradamente”: “ácribós” em grego (Lc 1,14). A partir de Lc 1,5ss, o texto original cai de qualidade. É sinal que o Autor se adaptou, foi fiel às fontes que tinha em mãos.

Não pretendo abordar a árdua, mas interessante questão. Apenas adianto que, a partir da primeira semana de dezembro, iniciaremos o chamado Ano Litúrgico C, quando se usará preponderantemente, na liturgia, o texto do IIIº Evangelho. É importante, então, que dediquemos uns instantes de reflexão para que o texto sagrado seja melhor e mais aprofundadamente acolhido, de modo especial durante o ano litúrgico prestes a começar. Continue lendo “Ácribós = Acuradamente”

Vida e santidade

Texto de P. Alcides Marques, CP

Não sei se você sabia, mas a oração eucarística III é a mais ecológica de todas. Ecológica no sentido de destacar o valor divino da criação. Muitas vezes, passa despercebida a originalidade de cada uma das orações eucarísticas. É por isso que é sempre bom estudá-las para descobrir a riqueza que se esconde (ou se revela) nelas. O nosso querido Dom Helder Câmara é quem falava deste aspecto da oração eucarística III. E será este o nosso objetivo: desdobrar o seu significado ecológico. Note que a oração eucarística vai além deste significado. Continue lendo “Vida e santidade”

Ensina-nos… E assim teremos um coração sábio

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Em si, o provérbio é um tratado que, em poucas palavras, condensa grande sabedoria. Assim alguém, dotado de argúcia, leu a natureza e a sintetizou na breve sentença: “natura non facit saltum” (a natureza não dá salto). Realmente, as leis que a regem são suaves, embora nem sempre facilmente entendidas. Foi o que senti, no início deste dia, ao recitar o Sl 90[89]. No versículo 12 está a súplica que encabeça este artigo. Pode parecer esdrúxulo, mas o mundo que de per si é harmonia (kosmos), como há milênios chamaram-no os pensadores gregos, precisa de pessoas que tenham corações sábios. Continue lendo “Ensina-nos… E assim teremos um coração sábio”

Norton I

Texto de P. Alcides Marques, CP

Você sabia que os Estados Unidos já tiveram um rei? Quer dizer: não rei no sentido estrito do termo, como o Brasil com Dom Pedro I e II. É que no ano de 1859, um cidadão de São Francisco (Califórnia) se autoproclamou rei sob o nome de Norton I. Ele ficou conhecido na história como “Imperador dos Estados unidos” (posteriormente, se proclamou protetor do México). O interessante na história deste personagem não é o fato do mesmo ter se proclamado rei, mas a maneira como as pessoas da cidade lidaram com este fato. E é isso que vamos refletir. Continue lendo “Norton I”

O Deus escondido

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Dando continuidade ao que se considerou em “No início era a Palavra”, é de afirmarmos, de antemão que, em si, Deus é inacessível. Contudo, ele toma a iniciativa e vem aos humanos das mais variegadas maneiras. Por isso o Profeta nos diz que ele é o Deus escondido (Is 45,15), mas que se revela.

O versículo apresenta vários desafios, mas de maneira geral afirma que, da sua inacessibilidade, ele se achega salvificamente ao ser humano. Trata-se de Deus que se esconde e se revela ao mesmo tempo, como fazia pela coluna de nuvem que o ocultava e que, ao mesmo tempo, mostrava estar presente como guia (Ex 13,21-22). O ponto alto de Deus revelar-se e ao mesmo tempo ocultar-se, se deu em Cristo que assumiu corpo como os demais mortais escondendo sua origem divina. Continue lendo “O Deus escondido”