Pecados capitais

Texto de P. Alcides Marques, CP

A tradição católica fala em sete pecados capitais: soberba (orgulho), avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. A palavra “capital” vem do latim caput, que quer dizer cabeça. São capitais porque são os principais, os maiores, aqueles que dão origem a todos os outros pecados. Se você pensar bem, vai perceber que todos os possíveis pecados tem alguma raiz em um ou mais deles. O número sete é símbolo de plenitude, ou seja, os sete pecados capitais representam todos os pecados humanos. Não são explicitamente bíblicos, no sentido de que não há na Sagrada Escritura uma lista dos mesmos. No entanto, estão implícitos em várias passagens bíblicas.

Na origem mais remota da lista dos sete pecados capitais, está a classificação do grego Evágrio do Ponto (346-399), um monge cristão e asceta, que fez parte da comunidade monástica do Baixo Egito. O monge traçou as principais doenças espirituais que afligiam os monges, chamando-as de os oito males do corpo. Na lista de Evrágio havia oito vícios: gula, avareza, luxúria, ira, melancolia, acídia (preguiça espiritual), vaidade e orgulho.

A lista de Evágrio foi conhecida por outro monge São João Cassiano (360-435), que a divulgou no oriente, espalhando-a pelos reinos cristãos. Podemos dizer que São João Cassiano foi o divulgador desta lista.

No século VI, o papa Gregório Magno (540-604) ao tomar conhecimento da lista, adaptou-a para o Ocidente. Melhor dizendo: adaptou-a para os seres humanos em geral. Com isso, reduziu a lista de oito para sete. Juntou a vaidade ao orgulho e adicionou a inveja. E o mais importante: chamou esta lista de sete pecados capitais, sendo eles: orgulho, inveja, ira, melancolia, avareza, gula e luxúria.

Os sete pecados capitais foram então bastante difundidos pelo mundo cristão medieval. Várias listas foram elaboradas por teólogos. O dominicano São Tomás de Aquino (1225-1274) fez um grande estudo sobre os sete pecados, dando-lhes princípios filosóficos inspirados na filosofia grega, particularmente em Aristóteles. Na sua lista, ele enumera como os sete pecados capitais: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia (preguiça). O orgulho está fora da lista porque, segundo Santo Tomás, este pecado está acima e é o fundamento de todos os outros.

No século XVII, a igreja subtraiu oficialmente da lista do papa Gregório Magno a melancolia, por considerá-la mais como doença, trocando-a pela preguiça. Hoje, a melancolia recebe outro nome: depressão.

Os monges antigos (Evágrio e João Cassiano) falavam mais em doenças espirituais ou vícios. Hoje, precisamos entender os pecados capitais mais neste sentido: são pecados e são vícios. Se repararmos bem, as nossas tendências negativas sempre apontam para algum pecado capital. Essas tendências não são pecados e nem levam necessariamente ao vício, mas são impulsionadoras dos mesmos. Por isso mesmo, precisamos sempre estar vigilantes para que as mesmas não se tornem vícios. A vigilância deve ser constante e ninguém está automaticamente livre delas.

O Novo Testamento tem listas de pecados (cf. Rom 1,28-31) e isso significa que a comunidade cristã tem o direito de considerar a luta contra o pecado a partir de uma lista que sintetize melhor os perigos que enfrentamos. Tal é o sentido de conhecermos os sete pecados capitais.

Donde, onde, aonde

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Mesmo quem não é muito afeito à reflexão tem consciência do lugar onde se situa; vê-se alguém localizado num determinado espaço. A isto chamamos de onde. É algo bem determinado; em sua precisão, o que ocupamos, não é condividido com mais ninguém. É impossível outra pessoa partilhar daquele mesmo lugar. Ela pode estar bem perto, mas o lugar que ocupamos é só nosso.

Daquele ponto existencial é possível que a pessoa, se dotada de um mínimo de prendas reflexivas, descubra que o tal onde foi precedido de um donde. Sabe que antes esteve em lugar distinto, donde veio. Continue lendo “Donde, onde, aonde”

A construção da vida

Texto de P. Alcides Marques, CP

Um filme alemão (1998), chamado no Brasil de “Corra, Lola, Corra”, pode ser utilizado para uma reflexão sobre a vida humana e maneira como nós a construímos. Mesmo que você não tenha assistido ao filme, vai a entender a nossa linha de argumentação. Um breve resumo: Lola tem 20 minutos para conseguir uma alta quantia em dinheiro para salvar a vida de seu namorado das mãos do chefe de uma quadrilha. O namorado de Lola foi encarregado pela quadrilha de transportar o dinheiro numa sacola. Acontece que, por uma distração sua, esquece no metrô e a sacola fica em poder de um mendigo. Ele então fica diante do seguinte desafio: ou arruma o dinheiro em 20 minutos ou morre. Continue lendo “A construção da vida”

Todos os Santos

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Domingo próximo, em comunhão com a Igreja no Brasil, estaremos celebrando a Festa de Todos os Santos. Como Igreja Peregrina, a que palmilha neste mundo, seremos comunhão com a Definitiva. Alegrar-nos-emos com os irmãos que já estão na comunhão com o Pai, na chamada Igreja Gloriosa.

É de se antecipar: não se trata de trocas interesseiras entre “os de lá”, aguardando louvores, velas e flores, e “os de cá”, esperando graças, bênçãos e favores. A vida religiosa não é barganha comercial, e sim, comunhão e fraternidade. “Os de lá” sendo modelo, protótipo e comunhão, e “os de cá”, procurando exemplo, luzes e incentivo. S. Agostinho, ante a multidão de bem-aventurados oriundos de todos os povos, de todas as idades, de todas as condições sociais e culturais, como era próprio dele, sintetizou lapidarmente: “si isti et istae, cur no ego?” = “se estes e estas, por que não eu?”. E, contando com a graça divina, assim como com o estímulo de tantos irmãos e irmãs, chegou aos píncaros da santidade. Continue lendo “Todos os Santos”

Destro, canhoto e ambidestro: diversidade

Texto de P. Mauro Odorissio, cp

A velha lógica aristotélica sempre ensinou que, antes de iniciar um debate ou qualquer estudo, é importante definir os termos. Com eles definidos, muitos equívocos são evitados e, praticamente, meio caminho fica vencido.

Nosso cabeçalho traz três termos que merecem um mínimo de atenção. Comecemos com o primeiro: DESTRO. Com ele queremos indicar não uma pessoa capaz, hábil, desembaraçada, perspicaz, mas sim a que usa mais facilmente a mão ou o pé direito. É destro o que se serve naturalmente da mão direita para comer, para fazer algum trabalho. Se isso acontece com a mão esquerda, ele é canhoto. Porém, não desastrado, desajeitado, inábil. No momento não tomamos a palavra nessa acepção. Continue lendo “Destro, canhoto e ambidestro: diversidade”

Uma data especial

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

30 de Setembro! Para muitas pessoas esta data é diferenciada entre tantas outras.

Muitos sabem que, neste dia, se encerra solenemente o mês da Bíblia. Entre estes, bom número está informado que neste dia celebramos a festa de S. Jerônimo. E não faltam os que o distinguem entre outros santos por ter sido grande estudioso das Sagradas Escrituras. Sim; ele dedicou o mais profundo de si para mais aprofundamente compreender, viver e irradiar a Palavra de Deus. Resumindo: S. Jerônimo é o padroeiro dos exegetas, dos estudiosos das Escrituras, dos biblistas. E, como foi secretário do papa Dâmaso, ele é também padroeiro dos secretários, das secretárias.   Continue lendo “Uma data especial”

O futuro da fé

Texto de P. Alcides Marques, CP

Será que a fé tem futuro? Será que a tendência da humanidade no futuro é ter mais ou menos fé? Seria interessante que tivéssemos respostas a estas perguntas, mas, infelizmente, não temos. Podemos até imaginar que sim, mas também pode ser que não. No entanto, mais do que um exercício de adivinhação do futuro, o que conta mesmo é a fé atual. Melhor dizendo: é a fé que temos aqui e agora. Por ora, basta que saibamos que o futuro da fé está diretamente ligado à fé no futuro. Continue lendo “O futuro da fé”

Rito e ritualismo

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Rito e ritualismo: próximos e tão distantes! Próximos na raiz morfológica. Mas distantes como Esaú e Jacó que, gêmeos, se odiavam desde o seio materno (Gn 25,20ss). Assim, rito e ritualismo estão, conceitual e entitativamente distantes.

Mas, o que é um e o que é o outro? Para facilitar a compreensão voltemos ao nosso passado. Continue lendo “Rito e ritualismo”

Natividade de Maria

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

As primeiras nove horas do dia de hoje, 8 de setembro, passei viajando. Entre um cochilo e outro, pude refletir, meditar, contemplar. A solenidade do dia, Natividade de Nossa Senhora, alimentou minha meditação e até mesmo a minha contemplação. O barulho do ônibus não me perturbou. É certo que pensei nos textos apócrifos, isto é, não inspirados, pois não fazem parte da Bíblia. Eu os guardo com veneração, sobremaneira o “Protoevangelho de Tiago” e o “Livro sobre a Natividade de Maria”. Ambos falam de um casal chamado Joaquim e Ana que não tinham filhos e que, depois de muita oração, de muitos suspiros, vieram a ter uma meninazinha à qual deram o nome de Maria. Continue lendo “Natividade de Maria”

Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos

Texto de P. Alcides Marques, CP

Trata-se da 7ª obra de misericórdia espiritual. Mas, em que sentido a oração se constitui em obra de misericórdia? No momento em que for vivenciada como um ato de amor ao próximo, especialmente nos momentos de sofrimento do outro. É comum as pessoas pedirem orações em momentos de dificuldade e é comum as pessoas manifestarem o desejo de fazerem orações umas pelas outras pessoas. Neste sentido, o que se busca é uma comunhão espiritual entre as pessoas e Deus. Continue lendo “Rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos”