Ninguém se acusa a si mesmo

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Terminei o último domingo de maio embalado pela singela festa da coroação de Nossa Senhora. Depois da missa aconteceu a breve, mas tocante celebração. Tudo preparado pelas catequistas, com apoio dos pais, para a alegria da comunidade e, com a marcante participação de nossos catequizandos.

Num lugar destacado estava a imagem de Nossa Senhora Aparecida, sem o manto, sem a coroa. Parecia-me nova, vinda não sei de onde. As crianças, meninos e meninas, vestidos de anjos, participaram da celebração eucaristia. Para evitar voos incontroláveis, os anjos estavam sem as necessárias azas, por sinal, empilhadas no banco. E anjos sem esse meio de locomoção, o são pela metade. Estavam de branco, com coroas e destaque que facilitavam identificar os anjos das anjas. É certo: inquietos esperavam as asas necessárias para os voos rasantes e mergulhos que costumam fazer pelas diversas nuvens, com suas fantasias incontroláveis. Continue lendo “Ninguém se acusa a si mesmo”

Ensinar os ignorantes

Texto de P. Alcides Marques, CP

A racionalidade é uma das características fundamentais do ser humano. Não é a única, mas seguramente é necessária para a existência humana. Em outras palavras, sempre precisamos aprender coisas novas; incorporar novos conhecimentos. Não é à toa que os sites de pesquisa são os mais visitados na internet. “O coração inteligente adquire o saber, o ouvido dos sábios procura o conhecimento” (Pr 18,15). A nossa saúde mental depende disso. Um dos mais fortes sinais do envelhecimento de uma pessoa, é a sua incapacidade de aprender coisas novas. Continue lendo “Ensinar os ignorantes”

Dar bom conselho

É uma obra de misericórdia espiritual. Espiritual porque tem como objetivo ajudar uma pessoa em suas escolhas e decisões. Existe um ditado que diz que “se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia”. Mas, a realidade da vida, particularmente da vida cristã, exige que, em algumas situações determinadas, seja um ato de misericórdia oferecer a alguém a nossa ajuda através de palavras motivadoras e construtivas. Continue lendo “Dar bom conselho”

Falar línguas

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

As pessoas com as quais convivo sabem que, há uma semana, meu irmão Ézio voltou à comunhão definitiva com o Pai (1Cor 15,28). No momento eu o tinha presente ante os meus olhos. Nenhum dos seus membros faltava, a começar pelo seu coração nobre e excepcional. Todavia, todos estavam inertes. Faltava-lhe o princípio vivificador: sua alma trabalhada que o acompanhou desde a concepção. E, sem ela, os olhos não viam, o coração não pulsava e os braços sempre abertos à acolhida, não se moviam. Continue lendo “Falar línguas”

Encontro com Cristo e suas consequências

Texto de P. Alcides Marques, CP

O papa emérito Bento XVI escreveu três volumes de uma obra intitulada “Jesus de Nazaré”. Ao falar da ressurreição de Cristo, ele destaca a citação de são Paulo Apóstolo quando apresenta a ressurreição como o fundamento da fé cristã: “se Cristo não ressuscitou vazia é a vossa fé e vazia é a nossa pregação” (1 Cor 15.14). Ao refletir sobre as consequências de tal afirmação, o papa vai dizer que se Cristo ressuscitou o critério último de nossas escolhas e decisões é ele (Cristo). Se Cristo não ressuscitou o critério último somos nós mesmos, o nosso próprio eu, e assim podemos escolher dos ensinamentos de Cristo aquilo que mais nos agrada. Continue lendo “Encontro com Cristo e suas consequências”

De trás para frente

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Nossas impressões diárias nem sempre são devidamente refletidas e, com isto, ficamos a vida inteira carregando equívocos que afetam nosso modo de ser, de pensar e de viver. Assim sendo, vamos caminhando  equivocadamente, e podemos nos julgar atualizados.

Exemplo? Pois não. À primeira vista parece ser o sol quem dá voltas ao derredor da terra e não o inverso. A terra, por sua vez, deixa a impressão de estar parada, estática, quando, na verdade, gira doidamente ao redor do próprio eixo e de seu centro que é o sol. Sem falar no processo de expansão que está a partir de determinado ponto de partida o big bang, isto é, a grande expansão. Continue lendo “De trás para frente”

O corpo também é de Deus

Texto de P. Alcides Marques, CP

Na Profissão de Fé, nós declaramos: “creio na ressurreição da carne”. Mas o que significa esta afirmação? Quais são as suas consequências em nossa vida? Lembremos que a fé na ressurreição de Cristo não é apenas um componente de nossa vida cristã, mas é o fundamento, a razão mesma do nosso ser cristão. “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (1 Cor 15,14).

O Novo Testamento foi escrito em grego, mas o sentido das palavras utilizadas, sobretudo por São Paulo Apóstolo, vem da mentalidade semita (judaica). Assim sendo, quando lemos as palavras “corpo” e “alma” devemos entendê-las em seu sentido bíblico original e não na maneira como normalmente entendemos. Como assim? De um modo simplificado, podemos dizer que as entendemos como partes do ser humano. Usamos muito o verbo “ter”: eu tenho um corpo, eu tenho uma alma. Na bíblia, corpo e alma não são partes do ser humano. O ser humano inteiro é corpo. O ser humano inteiro é alma. Deveríamos usar o verbo ser: eu sou corpo, eu sou alma. Continue lendo “O corpo também é de Deus”

Pastores X agricultores

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

Estamos celebrando o Mistério Pascal que é a concretização da páscoa judaica. Saindo da escravidão do Egito, os judeus celebraram a páscoa e se colocaram a caminho da Terra Prometida. Ao celebrá-la, anualmente, no decurso da história, eles iam concretizando a liberdade conquistada então. Porém, jamais se afirmará sobejamente que a celebração judaica é imagem da definitiva selada com todos os povos, por meio de Cristo: é ele a nossa páscoa, o nosso Cordeiro imolado (1Cor 5,7). Continue lendo “Pastores X agricultores”

Esmola, oração e jejum

Texto de P. Mauro Odorissio, CP

A palavra tripé tanto pode significar o aparelho com três pés, o qual dá condições para fotografar, filmar, contemplar astros e planetas com melhor precisão, como o conjunto de coisas distintas que formam um todo harmonioso.  Assim, a esmola, a oração e o jejum formam um conjunto virtuoso que deve, não só estar em comunhão entre si, como em harmonia ontológica, a saber, entre o interior, o constitutivo da pessoa e o seu exterior, a parte operativa. Estas três virtudes são basilares, quer na espiritualidade do Primeiro, quer na do Novo Testamento. Elas mereceram considerações por parte de Jesus e de todos. Continue lendo “Esmola, oração e jejum”